terça-feira, 25 de março de 2008

Isso é o mar


por Vilauba Herrera


Sexta-feira passada assisti, sem querer, ao filme Riding Giants. O documentário conta a história de surfistas e as ondas gigantes que descobriram pelos mares do planeta: Oahu, Maverick‘s, Teahupoo...
No final do documentário, dirigido por Stacy Peralta (2004), a música "This is the sea", dos Waterboys, faz um dos melhores Grand Finales que já vi.
A música, uma balada a la anos 70, é inebriante. Se mistura com as ondas, as cores, o ritmo, a velocidade das pranchas correndo pelas gigantescas paredes azuis.
Admito que nunca subi em uma prancha. Fustrante. Mas o tempo passou e o que me resta é admirá-las sendo desafiadas pelos surfistas.
Mas se não pude encarar as ondas em cima de uma prancha, posso compartilhar o respeito pelo mar, a sensação de não ser praticamente nada quando olho para a imensidão azul/verde e vejo sua força, o prazer de poder contemplá-lo. Isso é o mar.




Agradeço ao site o escriba, que me ajudou a descobrir o nome do filme.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Transmissão

por Vilauba Herrera


foto: Apu Gomes

Retirou as chaves do bolso de forma estapafúrdia, quase derrubou o buquê de rosas multicoloridas. Subia a escada em tempo recorde, para o seu tamanho e resistência física. Mas não arfava, tinha o olhar compenetrado nos degraus, cada lance. Imaginava o que ia falar, tinha dúvidas sobre como introduzir aquele assunto, tinha medo de gaguejar, pigarrear, babar. Ela sempre foi tão sensível.

As mãos estavam tremendo, no rosto, as primeiras gotas de suor escorriam pela testa grande. Faltavam dois lances de dez degraus. Parou por alguns segundos, passou a mão esquerda nos cabelos curtos e fez caretas para aliviar a tensão dos músculos da cara.

Chegou à porta, sutilmente, forço a maçaneta para ver se estava destrancada. Não estava. Rapidamente, colocou a chave e abriu vagarosamente. Otis Redding o recebeu: "There were time and you want to be free..."

Ele adorava I've Been Loving You Too Long, que rodava na vitrola no canto da sala. Seria a trilha. Colocou a bolsa em cima do sofá verde gasto. Logo depois, o buquê, camuflado entre duas almofadas coloridas.

Ela estava no quarto, a luz do abajour acesa. Olhou para o teto, não respirou fundo, não suspirou, apenas caminhou lentamente. Se estivesse dormindo faria o que? Não tinha pensado nessa situação.

- É você? Ela perguntou, em baixo volume. Nunca falava alto.
Não respondeu, já estava com um pé dentro do quarto. Lá estava ela, deitada, coberta somente por um lençol branco e extremamente fino. O livro em seu colo. Cabelos presos, a camisola que tinha lhe dado há alguns meses, em um dia qualquer, uma comemoração inventada.
Não deu tempo de abaixar a cabeça, levantá-la e dar um sorriso fraco.
- Não quero mais. Não consigo pensar mais em você aqui do meu lado.
Ela, sempre tão sensível, tão cheia de cuidados, o pegou de surpresa. Não esperava o golpe e por isso, sorriu. Não teve controle, foi instântaneo.

As mãos não saíram do bolso. Virou-se e saiu do quarto, ligeiro. Pegou sua bolsa, o buquê. Girou para observar a sala, iluminada pela lua e pela rua.
Deixou as chaves no sofá, abriu a porta e, antes de fechà-la, ouviu "I love you with all of my heart And I can't stop now..."

Na escada, enfiou a mão no bolso e atendeu o telefone. Suspirou, tranquilo.
- Alô... estou indo para ai.

domingo, 9 de março de 2008

Duelo de gerações

por Vilauba Herrera

A sua intolerância não me passa na garganta
Essa impáfia que borbulha embaixo dos dentes
A teoria frustrada camuflada de sacrossanta
Agradeço e dispenso essa tirania beneficente

Afrouxe essa corda ao redor da alma
Deixe soprar a realidade em seu peito
Não está errado, mas também não é perfeito

Cobra dos outros, as decisões arrependidas
Memórias são escudos para o fracasso futuro
Encapadas pelas gargalhadas aborrecidas
Que balançam os cabelos brancos e imaturos