quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Foi uma linda história de amor, que me contaram...

O Taj Mahal impressiona. É clichê, é Unesco, é turístico até o talo, é suntuoso, mas a prova de amor de Shah Jahan a Mumtaz Mahal é das coisas mais bonitas que já vi. A empolgação, que não era das maiores quando cheguei em Agra e parei no hotel bem ao lado,  ressuscitou imediatamente, quando vi a entrada, em mármore branco, pela portão sul, que é feito de pedras vermelhas e também não lhe falta beleza.


Não cheguei no horário pedido pelos guias, 6h30 da madrugada. Não vi o nascer do sol. Cheguei para lá das 10h e já estava apinhado de gente. Indianos, claro, e coreanos dominam a cena. Mas ouvi e vi diversas nações pelos jardins,  inclusive uma família brasileira. O pai só dizia "Maravilhoso, é maravilhoso...", enquanto um guia de turbantes e que falava espanhol, fazia todos aqueles rituais para apresentar o local: entrar de costas, só abrir os olhos no três, tirar foto fingindo estar segurando o topo do palácio...A mãe disse que o povo indiano é muito espiritualizado e a filha parecia cumprir a visita burocraticamente. Sou chato mesmo.


O palácio todo branco esconde surpresas quando você chega perto, meio que nem quadro impressionista, mas não do mesmo jeito. Nas paredes, mosaicos florais em pedras cor verde, vermelha, amarelas e pretas. Desenhos em alto relevo e inscrições do corão ornam os portais imensos e paredes da simétrica construção. No meio, o mausoléu de Shah Jahan e Mumtaz Mahal, circundado por uma espécie de mureta com mosaicos e detalhes no mármore, como se fossem bordados. Em cada uma das quatro pontas, salas com oito portas em cada.



O jardim também chama atenção. tem o estilo inglês, já que o Taj Mahal voltou a ser valorizado no meio do processo de colonização dos britânicos na India. Atrás do monumento, o rio Yamuna. A outra margem do rio possuia um dos jardins do Taj Mahal e uma piscina. Hoje, o rio representa perigo pela poluição que vem recebendo. Mas ainda é bonito, com suas margens cheias de búfalos e bancos de areia.

Sai do complexo do Taj Mahal com tempo. Meu trem parte 21h40 para Allahabad. Parei para almoçar no restaurante do hotel em que estava. Enquanto organizo as coisas para chegar ao Khumb Mela, penso nos caminhos que poderia seguir antes de voltar ao festival, no fim de fevereiro, em Varanasi.  Norte, o pé do Himalaia em Darjeeling, Kolkata e o baía de Bengala, ruínas de povos ancestrais no centro do país...

Resmungo agora por ter, em algum momento achado que dois meses pela India seriam suficientes.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Fatehpur Sikri


Antes das 7h já ouvia o bate pé e papo dos funcionários do hotel, que estão no quarto ao lado e dividem uma janela de banheiro comigo, assim como no hotel em Jaipur.

Comi umas frutas, tomei banho de caneca, peguei as máquinas e fui para a estação. Um rickshaw depois, estava em Idgah Bus Stand. Enquanto esperava o ônibus, fotografei o terminal e os ônibus pitorescos. Junto comigo, no bonde dos gringos, um grupo de coreanos. Desde que cheguei ai norte da India, vejo muitos coreanos, mas em Agra é maioria absoluta. Escolheram os bancos da frente, as mulheres limparam os bancos com panos úmidos. 

Algumas delas com máscaras e panos no rosto. Uma foto atrás da outra, pareciam estar em um museu, não se relacionavam com o espaço. Estranho, achei. Acho. Acordei na rodoviária de Fatehpur, todos já descendo do ônibus.


Fatehpur Sikri é uma cidade há cerca de 1h30 de Agra. Sua parte antiga, tombada pela Unesco, foi construída no século XVI pelo imperador Akbar, o Grande. Todas as construções são em pedra vermelha. Apesar do tempo, a maior parte dos prédios está em bom estado de conservação. 

Ela foi construída por Akbar, como uma homenagem ao nascimento do primeiro de seus filhos. Ainda na antiguidade, a cidade foi abandonada por problemas de falta d'água, apesar dos enormes poços de água construídos pelo imperador. Uma cidade empobrecida é a nova Fatehpur Sikri. 


Após a visita, desci para caminhar. Percebi que os turistas vão apenas às antigas construções, atrás da rodoviária. A população não está acostumada com estrangeiros e suas máquinas fotográficas além dos muros dos palácios.


Almocei no restaurante dentro da rodoviária e logo peguei o ônibus de volta à Agra. Saí para jantar e repeti o erro do dia anterior. Na India, é melhor não entrar em lugares que você só enxerga turistas. Ele pode até ser mais limpo que o normal, mas o conteúdo desanima. Comi um sanduíche e uns chapatis com chai. Era hora de fazer os planos para o Khumb Mela. E acordar cedo para ver o Taj Mahal.

Jaipur - Agra


Bananas e mexiricas no café da manhã. Eram 7h e me enrolei organizando a mochila. Me despedi de Tony e dos funcionários e fui pegar o ônibus das quase 9h. 

O transporte feito pela Blue Line, a linha estatal, é com máquinas antigas e completamente detonadas. Me sentei no banco dos números 17 e 18. O meu era 18, corredor. Amarrei a mochila grande atrás do banco de números 1 e 2, logo na porta. A pequena, no maleiro acima. Comprei água e biscoitos. Os biscoitos da India, esses simples, como água e sal e os doces, sem recheio, são muito bons.


O ônibus andou e logo encheu. Comecei a pescar e tentar um jeito de dormir. Sem apoio para a cabeça, impossível. Pesquei a viagem inteira, praticamente. Em uma das paradas, desci para esticar as pernas e aproveitei para comer uma salada de frutas e verduras. Tudo com masala, o tempero.

Foi interminável. Mas as 6h que duraram muito mais chegaram ao fim e estacionei na Idgah Bus Stand, em Agra. Tomei um rickshaw e pedi para ele me deixar perto da área hoteleira, já que não tinha reservas. Não precisei andar muito depois e logo me acertei num hotel à uns metros da entrada sul do Taj Mahal. Estiquei o corpo e fui dar uma caminhada após acertar a passagem para Allahabad, na noite do dia 30.



Peguei o final do pôr do sol atrás do Taj, para os íntimos. Na beira do rio que banha a cidade, fiz algumas fotos e voltei para o hotel. Antes passei em uma cafeteria, dessas com cara ocidental e cheio de ocidentais dentro. Cagada. Café caro e médio. Mexi em alguns planos para os próximos dias, após a primeira etapa do Khumb Mela. E decidi que ia a Fatehpur Sikri no dia seguinte.

Parada estratégica em Jaipur



Estava descalço pelas ruas nevadas de Londres com meus irmãos. Daí acordei na frente de um hotel, ao lado de uma obra de viaduto e com os pés gelados de frio no ônibus, em Jaipur. Eram 7h da manhã. O ônibus andou mais uma centena de metros e parou de vez, do outro lado da obra do viaduto. O motorista me explicou onde era a estação de trem. A de ônibus eu sabia, não sei como, mas sabia.

Cheguei no terminal ferroviário e uma funcionária me disse que para turistas, os bilhetes eram vendidos em outro lugar. Dei meia volta e segui para a rodoviária de Sindh Kamp. No final do viaduto, olho à esquerda e vejo Tony's Guest House. Me lembrei do suiço tagarela em Pushkar falando sobre o lugar. Decidi que ia até a rodoviária ver preços e horários para Agra e voltaria para um café no Guest House.

Ônibus de meia em meia hora a 200 rúpias. Beleza. Voltei ao Tony's. Subi as escadas, falei com o funcionário na entrada e observei os primeiros metros do lugar. Muitas fotos, recados de hóspedes de todo o mundo, maioria orientais, um pôster do Bob Marley e plantas, muitas. Subi as escadas para o terraço. E quem encontro? Pascal, o tagarela.

Conversamos e fui apresentado ao Tony, o dono. Figura de barba branca de fala mansa e que me lembra alguém que não me lembro quem.
Uma suiça e um japonês sentaram a mesa e contiuamos o papo. Chai e tostex de queijo e tomates. Enquanto isso, olhava ao redor. Muitas plantas, passáros, redes, desenhos na parede, dois pezinhos da erva santa em meio aos outros vasos. Do jeito hippie que gosto. - Tony, você tem um quarto vago?
É, decidi ficar um dia ali. Seria melhor do que gastar mais em Agra. Sabia que era uma cidade mais cara e pelos relatos, só o Taj Mahal salva.

Tratei de arrumar a mala mais uma vez, usar bem a internet e papear no melhor lugar de Jaipur, o terraço do Guest House. Entre alguns copos de chai e fumaça, o dia passou com assuntos que variaram desde a política social do Japão, passando pelas bizarrices do Berlusconi, a seleção brasileira e a Copa de 2014 e sobre uma possibilidade de travessia do atlântico via Espanha e de graça. No meio disso, almocei um bonito arroz com um mix de vegetais no curry.

Se o papo rendeu de dia, à noite não pensei em conversas. Desci e comi uns salgados que parecem samosas e um doce. Comprei umas frutas e voltei ao Guest House. Na chegada, Tony me convidou para o jantar. Não recusei. Após um Dal de Espinafre feito no forno de barro (no terraço) com chapatis, deitei na rede mais distante da turma e dormi por algum tempo. Só acordei para descer até meu quarto. O outro dia ia começar antes das 7h.

Saída do deserto


O ônibus para Jaipur partiria às 17h, mas o check out era 9h. Tomei café da manhã no terraço e aproveitei para fechar a conta com Papoo. Hassam chegou depois e fez o mesmo. Fui para a rua ainda com fome e forrei o estômago na German Bakery. Encontrei as meninas por ali. Elas voltavam no check out. Aproveitei que iam para a rua principal e fui junto. Sabia que a viagem de 13 horas até Jaipur ia ser gelada. Comprei um pequeno cobertor.
Elas ainda passaram em mais algumas lojas e o tempo voou. 

Eram quase 14h, horário do ônibus em que o trio iria para Bikaner, assistir o festival de Camelos. Fui com elas até o ponto e aprendi o caminho de onde deveria estar algumas horas depois. Hassam chegou minutos depois. Ajudei com as mochilas e nos despedimos agendando novos encontros para Suécia, Canadá e Turquia. Brasil, quem sabe.

Voltei a padaria e almocei na internet. Matei meu tempo lá e só peguei minhas malas no hotel de Papoo, que começava a receber dezenas de pessoas para o casamento de sua filha, marcado para dois dias depois.

Fui à pé até o ponto. Comprei umas frutas e me enfiei na última cabine sleeper. Era eu e mais dois coreanos, os gringos da vez. O ônibus começou a andar e vi o forte de Jaisalmer desaparecer aos poucos. À noite foi bonita, de lua cheia, que acompanhou meu lado no ônibus até a hora em que dormi.

Por dentro do forte


Acordei cedo, mas tarde para a convocação para o passeio no deserto. Hassam tinha ido com Raoul, que pilota a moto do pai. Comi umas bananas e fui atrás de uma internet. Encontrei Justine e Louise na German Bakery (quase toda loja que vende pão não indiano tem esse nome), na frente do Lhassi Shop. Aproveitei para comer mais alguma coisa, enquanto estava no computador. Comprei a passagem para Jaipur. 

Combinei de almoçar com elas mais tarde. Pouco mais de uma hora depois, fui andar pelo forte. Jaisalmer é patrimônio histórico tombado, sua construção data do século XII, na época do império Rajput. Mas isso não quer dizer que tudo ali é antigo e pouco mexido. A impressão é que por dentro, tudo está e plena transformação. 


demolidas, novas obras, casas antigas, puxadinhos, ruínas... Tudo amarelo, cor das pedras da região. Depois soube que por dentro pouco resta de prédios antigos, com exceção dos templos e palácios. Tudo foi destruído e vem sendo alterado através dos anos. Boa parte da população que mora dentro do forte é da casta brâmane, de maior poder ecônomico e social. Condominio fechado não é idéia nova, apesar do pessoal de Alphaville se achar pioneiro.


Almoçamos em um restaurante chamado Little Tibet, na beirada do forte. Dali podíamos ver o portão único de Jaisalmer, repleto de lojas e restaurantes e ciganas que vendem braceletes e colares, com seus filhos no colo.
Comemos momos, os bolinhos com vegetais dentro e completamos com uma sopa e Lhassi de limão, que até agora não consegui ver como é feito.


Em comum acordo, rumamos para o lago de Jaisalmer. A tarde já acabava e a vísta nem seria das melhores, continuamos mesmo assim. No caminho, paramos em um Saffron Milk diferente e pior. Lá encontramos Mister Papoo e seu filho, que acabava de deixar Hassam no hotel.

Chegamos ao lago e a única luz vinha dos postes. Uma música era cantada em um templo ao lado. Subimos as escadas e as vozes foram sumindo, uma a uma, enquanto as pessoas saiam. Em um breve momento, só uma voz entoava um mantra. Louise foi a primeira a entrar, depois, eu. Batemos o sino três vezes e saudamos Ramesh. É ele que todas as manhã e noites abre e cuida do templo de Shiva. É ele que canta e faz as pessoas cantarem. Entre a manhã e a noite, trabalha em um banco, de terno e gravata. Ali, na nossa frente, vestia suas roupas religiosas, com sua testa pintada de amarelo e vermelho, o terceiro olho, entre as sobrancelhas.

Contou sobre seuas afazeres no templo, sua relação com as pessoas que lá vão todos os dias, seu trabalho, seus alunos de canto de mantras. “Uma aluna francesa gravou um disco com mantras e está me trazendo.” Com a fala pausada e extremamente calma, explicou os rituais, as cores das tintas, as músicas para cada dia, os tons das canções e como se deve ler em hindi e sânscrito, na hora de cantar. Lembrou de como seu pai o ensinou música. 

“Ele me batia nas mãos e até na cara, quando eu errava. Ficava com as marcas dos dedos dele na minha bochecha. Daí vinha minha mãe e me abraçava e assim eu recomeçava”, disse, com um sorriso tímido. “São educações diferentes, não é? Mas eu aprendi.”

Também conversamos com um senhor, que ao saber de cada nacionalidade ali sentada na frente de Ramesh, elaborou perguntas específicas a nós.
Ramesh gosta de futebol. Mais do que críquete. “É mais intenso, completo. São 90 minutos, mas de espetáculo.” Falou de Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Pelé. Nos ensinou a entrar e sair de templos hindus e nos despedimos.

Retornamos rápido, mas nos perdemos e chegamos quase 22h no hotel. Hassam estava lá e nos juntamos no terraço. Ao chegarmos, um grupo de policiais tomava umas cervejas e batia papo nas almofadas. Mister Papoo fez questão de nos sentarmos juntos. Porém, logo a comida chegou e a tropa rumou para a mesa. “Policia é igual em qualquer lugar do mundo”, soltou Hassam, enquanto Papoo já começava seu discurso.

Com alguns amigos, ele trouxe também um ensopado com ovo e especiarias para comer com pão. Queria agradar e se esforçava para isso.  Após a refeição, fim da noite.

Segundo dia em Jaisalmer



O segundo dia em Jaisalmer teria começado cedo se o computador não tivesse travado no meio do caminho. Sai tarde do quarto, depois da hora do almoço. Hassam já tinha batido na porta mais cedo e também um recado na recepção, para encontrá-lo no Lhassi Shop. Mas ele já tinha saído de lá quando cheguei. Dr Bhang avisou. “Seu amigo está com três amigas e estavam te esperando”. Concatenei, Louise e Justine, melhor de saúde, haviam chegado. 


Fui caminhar pela cidade fora do forte. Dei a volta no forte e entrei pelas ruas e mais ruelas de gente, pequenos comércios, bagunça, “Hello”, “Wich your country?”, motos, bicicletas e bichos. Na India adotei a mania de brincar também com o gado, além dos cães. Alguns partem para chifrada. Porcos e macacos ainda não tive a manha.

No meio da tarde, enquanto desço uma rua em direção à rodoviária encontro o quarteto, subindo. Eles estavam indo atrás do restaurante indicado por alguém. Mas quando chegamos, estava já fechado.

No caminho para outro lugar, Poly se despediu. Disse que não se sentia bem e voltou pro hotel. Antes de ir embora de Jaisalmer, soube que ainda estava de cama, com febre.

Encontramos um restaurante aberto na frente do forte, onde partes do muro de contenção haviam ruído e uma obra era realizada. No terraço, Dal Tadka foi o pedido, com muitos chapatis. O Dal é uma comida originária do norte da India. Um ensopado com curry, paneer, que é um tipo de queijo, vários temperos, lentilha, chilly, tomate e mais um monte de coisa.

Louise e Hassam estavam na onda do Bhang Lhassi, Justine, ainda convalescente, e eu, mantinhamos o ritmo das risadas só de olhar para eles. Para arrematar, a larica descemos até o Saffron Milk do dia anterior, que Hassam fez questão de apresentar para as duas.

Na subida para o forte, o sol começou a descer e resolvemos ir para o terraço do nosso hotel. Foi chegar e cada um se acomodou num canto entre as almofadas. Ainda fotografei o sol no deserto junto com o filho do mister Pappoo (não Pappi como escrevi no post anterior).


A noite chegou e o frio junto. Mister Papoo, que já havia me oferecido uma garrafa de rum no dia anterior, de maneira discreta, já estava mais solto e juntou-se a nós para papear. Aproveitou e dominou a conversa.

Contou sobre seu poder na região, suas terras no deserto, suas amizades e influências... Também nos convocou para um passeio de motocas pelos vilarejos vazios ao redor de Jaisalmer. Pelas tantas, fui embora.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Dia de Lhassi em Jaisalmer


Antes das 7h da manhã, num frio descomunal, o funcionário do ônibus abre a porta da cabine. “Jaisalmer”. Em 20 minutos estava saindo do ônibus em uma rua empoeirada. Quando pisei no chão, cerca de 15 pessoas vieram me oferecer serviços. Transporte, hotel e até safari de camelo. Esperei os amigos para decidir o que fazer. Eu e Hassam pegamos uma carona no jipe que levava o italiano para o hotel.

 Já tinhamos um lugar apontado. Sugestão de Poly, a israelense amiga de Hassam em Pushkar. Apesar de negarmos o convite do funcionário que nos levava de jipe em irmos para seu hotel, ele nos levou para dentro do forte de Jaisalmer. Levamos mais uns 20 minutos para achar o Royal Stay.  Acordamos o dono do hotel, Pappi, e seu filho. Eles nos mostraram os quartos vagos. Já empurrei minhas mochilas para o mais barato e boa noite a todos.

Levantei tarde, na hora do almoço e sai do hotel após organizar as coisas. Encontrei Poly e Hassam. Eles procuravam uma agencia para fazer o safari de camelo. Acompanhei-os e sugeri um lhassi para depois. Saímos do forte. No meio das pesquisas sobre safari, descobri que para ir a Agra, último destino antes da primeira perna do Khumb Mela, terei que trocar de trem ou ônibus em Jaipur, partindo da Jaisalmer.
Chegamos ao Lhassi Shop e fomos recebidos pelo Dr. Bhang, como se apresentou o cara com muitos dentes na boca e um paletó rosa. Ele nos mostrou o cardápio e o certificado na parede desses sites de viagens. Ali se faz o Bhang Lhassi, a bebida meio iogurte, meio vitamina, misturada com a erva santa sem amônia. Antes da vitamina, desci até uma German Bakery em frente e comi um sanduiche para forrar.
Tomei um bhang Lhassi de Chikoo, a fruta que havia expeimentado em Jaipur. O doce da fruta é quebrado com o gosto mais amargo da erva.

Cada um abastecido com seu tipo de Lhassi. Ainda comprei cookies. Mantimento para outros momentos. Caminhamos por algum tempo por um bairro ao redor do forte. Uma das ruas, semelhante a de Pushkar, repleta de lojas de roupas, tecidos, itens em couro, pedras, metais e tudo aquilo que chama atenção da turistada. A cor da cidade é amarela, como o deserto onde está localizada.


Cerca de uma hora depois, minha boca ficou seca. Achei que era efeito do Lhassi apenas, mas lembrei do deserto.  Paramos em banca, onde um grande caldeirão com leite era fervido. Na superficie, uma espuma amarelada. Ao lado, muitos copos contendo fios amarelos bem finos. Alguns bancos em frente. Era um lugar concorrido pela população de Jaisalmer. Sem turistas. A receita é  interessante. Leite fervido com especiarias, acho que principalmente masala, num copo com fios de açafrão e algumas amêndoas. Saffron Milk estava escrito no menu azul pregado em uma parede.


Navegando na onda do Lhassi, caminhava preocupado apenas nas imagens para fotografar. Não era hora de falar, muito menos em outra língua. Percebi isso enquanto tomavamos o Saffron Milk e perguntei umas três vezes alguma coisa a Polly, em português.

Vez ou outra, Hassam, com gargalhadas na boca, me inteirava sobre o assunto que conversavam. Voltamos ao hotel no começo da noite. No restaurante,  no terraço, nos esticamos nas almofadas. Um jovem casal se esticava por lá também. Também adeptos do bhang lhassi, fumamos e demos algumas risadas até a noite cair de verdade.

 Com frio, os sorrisos foram virando preguiça para uns, fome para outros. Somei os dois e pedi um macarrão chinês com chiapati, o pão indiano. Antes, um chai para esquentar. Apesar da vista, a comida do La Puerta del Sol não era grandes coisas, foi um dos ultimos pensamentos da noite, antes de sair sorrateiramente do bate papo.

Despedida de Pushkar


De manhã, preparei as mochilas, fiz o check out, deixei as malas no térreo e fui encontrar o pessoal para comprar as passagens da noite. Mas tivemos baixas. Encontrei Hassam, que me contou sobre Justine. Tinha acordado muito mal, com febre, e decidiu esperar um dia para viajar. Louise a acompanharia. Fomos até o hotel e vi que ela precisava descansar. Passagens compradas, escutamos uma música alta atrás do hotel. Era um casamento, nos disse o dono. Contou que era de seu sobrinho e que poderíamos ir.

 Com a música como guia, tentávamos achar a festa. Mas logo a música cessou. Já com a parceria de uma norte-americana de Boston (e Celtics na cabeça!), entramos em um palácio bonito e cheio de crianças. Parecia um ashram e não descobri se era mesmo. Conversamos com a familia, que nos convidou para um casamento no dia seguinte.

Já na rua, uma nova música vinha de longe, fomos ao enconto dela. Era uma banda, uma das muitas bandas da cidade. Formada por dois tocadores de tambor, um tecladista e uma fanfarra, com metais e pandeiros. No meio, um homem que empurra a carroça com amplificador. Atrás da banda, um grupo de mulheres e seus roupas coloridas, em procissão. Quatro delas, com vasos ou jarras, sob suas cabeças. Não dançam, só caminham atrás da banda.

A norte-americana seguiu para outro lado. Eu e Hassam fomos atrás do trio elétrico. No meio do caminho, descobrimos que é uma época de casamentos, por isso tantas bandas, tanta música.  Chegamos a um templo. O grupo entrou e fomos convidados a entrar também.  Ao lado do templo, um pátio interno. Ao redor, dezenas de cômodos. Um homem, que parecia ser do lugar, nos convidou a subir até o terraço acima do pátio. Ali, alguns tapetes formados por pétalas de flores secavam ao sol. Abaixo, quatro meninas dançavam ao som da banda. Acompanhamos o ritual. Enquanto isso, Hassam e o anfitrião conversavam sobre os rituais de casamento em seus países e religiões: muçulmana e hindu.

Ao fim das danças, nos despedimos e voltamos para o centro da cidade. A fome já apertava. Paramos em frente ao restaurante tibetano, que já havia observado dias antes. Sentamos em bancos em uma pequena mesa, com um japonês e um suiço. Tagarela, o suiço dominou o assunto. Falou sobre suas viagens pela Asia, sua vida na Suiça, a crise mundial, o fim da comunidade europeia, culinária indiana, vegetarianismo, vinhos, erva e muito mais. Tomei um gyathuk, uma sopa de verduras com uma pequena massa cheia de verduras por dentro. Sensacional. Com copos de chai, conversamos por mais algum tempo e caminhamos até o Sarovar.

No lago, vimos um grupo de Taiwaneses passarem pelo mesmo que eu, no primeiro dia, ao escutarem a  ladainha do “Holy man. Depois vieram perguntar a nós se era normal. Pascal, o suiço tagarela, tomou as rédeas e deu um monte de dicas de como escapar das situações.

Eram 17h e os tambores iam começar. Hassam pediu para tocar também. Conheci Poly, uma israelense, que todos os dias tocava em frente ao lago.  Um cara com estilo hippie inglês, já coroa, era o responsável pelo digeridoo e chocalhos. Uma mulher de traços orientais e roupa indiana toda vermelha, tocava um instrumento formado por quatro placas pequenas de madeira, duas em cada mão. Um indiano era o responsável por explicar o ritmo e fazia o trabalho solo, enquanto os aprendizes se esforçavam na base. No final das contas, o som é bonito e forte.

Fui caminhar, dar uma última olhada em Pushkar, que tanto gostei. Ficaria ali um mês, mais.


No começo da noite, reencontrei Hassam, Pascal e Poly. O suiço nos levou a um pequeno restaurante. Honey and deal, que diz ser o primeiro de Pushkar. Comi uma Veg Pie, com muita batata, paneer (queijo indiano), especiarias, tomate e berinjela, acho. Tudo com chiapati, o pão indiano e chai.
No lugar, também conhecemos Federico, um italiano de Milão, mas nascido em Brescia e torcedor da Juventus. Vai entender? Ele também ia para Jaisalmer, no mesmo ônibus que nós. Era hora de ir. Nos despedimos de Pascal e cada um foi para seu hotel pegar as malas.

21h estávamos os três na frente de uma pequena banca de doces. Era ali o terminal para quem ia de Pushkar a Jaisalmer. Ainda faltava meia hora para o ônibus passar e um rickshaw para em nossa frente. Era Karina, Yacinth e Martin, que vieram se despedir. Achei demais.

Trocamos contatos e os franceses contaram ansiosos da aventura que ia começar na manhã seguinte. Viagem de duas semanas em cima de camelos até Jaisalmer. Eles também escrevem um blog  (Endereço).
O ônibus chegou. Me despedi e rumei ao deserto indiano.

 Eu, Hassam e Federico ríamos da situação, enquanto fotografavamos as instalações. O sleeping bus era formado por cabines, do lado direito, acima e embaixo. Do lado esquerdo, cadeiras abaixo, cabines acima.Quando a graça acabou, o frio tomou conta e foi assim até Jaisalmer.




Dia de caminhada


Cedo, coloquei Jorge Ben na vitrola e organizei as mochilas. No cabide no centro do quarto azul, pendurei algumas roupas que deixaria pelo caminho.   Tomei banho e fechei a conta no Chacha's. Sai pelo portão à esquerda e desci a ruela, entre entulhos, canaletas de água suja. Em sete minutos aproximadamente, estava no Milk Man. Coloquei as mochilas na sala de estar. Muitos tomavam café da manhã. Reencontrei Karina e o casal francês Yacinth e Martin. Pedi um chai e comia as bananas que havia comprado na noite anterior. No papo, também conheci uma londrina, que ficou impressionada pro eu conhecer seu bairro, Wansted, na zona quatro e nordeste da capital inglesa.

Era hora de ver a cama onde ia dormir. Na saída da sala de estar, tomei uma bronca por comer o que não comprei ali. A cama ficava no último andar do colorido Milk Man. Na sala com janelas por todos os lados, cerca de sete ou oito camas e mais dois quartos, que eram ocupados por um suiço  e um francês. O Suiço trabalha quatro meses do ano em Genebra e o resto do ano vive na Tailândia, viajando ao redor. “Não fico onde é frio”, me disse.

Escolhi a cama 121. Só uma era ocupada. Joguei as malas no baú embaixo da cama e fui para a rua. A meta era a área rural de Pushkar, que tinha visto de cima, no templo de Savitri. Fui em direção à saída da cidade. Após o templo Sikh reencontrei o turco do primeiro dia, Hassam. Estava alugando uma mobilete e ia, com duas garotas, Justine e Louise, para o templo de Aloo Baba, ou potato baba. Um homem que vive num templo nas montanhas e que passou os últimos 15 anos se alimentando apenas de batatas. Conversei com o trio, que tentou me convencer a ir. Hassam ia pela segunda vez já. Não fui e me arrependi. Marcamos um papo para mais tarde.

Ainda sem me arrepender, continuei o caminho, atravessei uma ponte e logo estava entre pequenas propriedades e plantações. Também vi duas escolas com alunos vestidos de azul e marrom. Camelos faziam o trabalho das vacas, no arado e no transporte de terra e outras coisas. Em um dos sítios, um casal trabalhava com trilha sonora, que era emitida de um pequeno barraco, no meio das ervas.


Cheguei nos fundos de uma escola, onde a criançada me observava desconfiada. A estrada continuava, sem fim, entre duas montanhas. Ao longe, dois casebres. De um deles, veio correndo e se balançando toda, uma cadela amarela. Ficamos de chamego, fiz algumas fotos e nos despedimos, ela com um latido choroso.
Já na cidade, almocei na banca de falafel que já era freguês.  O fim da tarde começava a chegar e caminhando encontrei Karina novamente. Já não queria mais ir para Johdpur. O destino deveria ser Udaipur, mais longe, mas menor e, segundo apuração, mas bonita e interessante.  Enquanto Karina procurava informações sobre trens para Delhi e Allahabad, me informava sobre ônibus para Udaipur, que saía no outro dia pela manhã, 7h.


A noite caiu e fui encontrar o trio que tinha ido ao Potato Baba. Encontrei Justine e Hassam no hotel deles. Andamos até um ghat no Sarovar e sentamos para conversar. Ainda empolgados com a visita da tarde, me contaram sobre Alo Baba. Mostraram fotos e lembraram de cenas. Era um brasileiro, uma canadense e um turco e logo a conversa desenrolou e o tempo passou. O frio apertou, junto com a fome.

 Disse que ia comer e eles me acompanharam ao Falafel. Encontramos Louise, que é sueca, no caminho e ela se juntou a nós. Enquanto devorava minha janta, cada um discutia o próximo destino. Hassam iria para Jaisalmer e tentava convencer a todos de ir com ele. As meninas pensavam no deserto também, mas sem confiança. Eu pensava em Udaipur.  No fim, num brinde de Chai com Falafel, batemos o martelo. Todo mundo para Jaisalmer. “Faremos uma festa no ônibus”, alguém disse. Fui para o Milk Man e dormi.

Fotografias de crianças em Pushkar


Esfregava as mãos pelo frio da manhã. Era um pouco mais de 9h e caminhava na rua principal. As lojas já abertas. Domingo e a cidade recebia ainda mais gente. Esquentando as mãos, imprimi um ritmo, ajudado pela respiração e enquanto saía da área central de Pushkar, observava o Templo de Savitri, em cima do morro. Era pra lá que ia.

Rua de terra e em menos de 20 minutos, estava no pé do morro. Comprei um saco de cereais, como oferenda. E garanti ao garoto da venda, uma carroça com tenda ao lado da estrada, que voltaria para um chai. Antes da metade do caminho, já esfregava as mãos apenas parea manter o ritmo.


ensei em só olhar para trás quando chegasse. Mas logo parei um ponto de observação onde um esquilo de cauda listrada dava boas vindas. Fotografei todos os laos e vi que Pushkar está em um vale. Do lado esquerdo, a vegetação que parece o cerrado brasileiro, amarela, com árvores mais baixas e arbustos. Do outro, pequenos propriedades rurais, com cultivos de cores diversas. Desse lado também vi que há um sistema de canais, provavlemente para a época de monções.

No topo do morro, o templo de Savitri é simples, como quase todas as construções na India. Mas silencioso, como não é em quease toda India.

Um casal alemão, de Hamburgo, que depois troquei algumas ideias, parecia meditar no sol, cada um no seu canto. Um trio feminino fazia preces dentro do templo, enquanto eu fotografava sem parar.
Macacos apareceram na minha frente. Não sei a espécie, mas diferentes dos de Jaipur. Pelos claros e a cara preta. Não ligam para os chamados, ao não ser que você tenha algo suculento nas mãos. Ao perceber que ali não iam se alimentar, subiram ao topo da construção e cada um em uma ponta, aproveitavam o sol. Têm um ar sério e sábio.

Na descida, continuei as fotos, mas rapidamente chegava à barraca de chai, onde havia comprado as oferendas. Dois moleques tomavam conta. Ainda olhavam a irmã mais nova. Aproveitei a falta de troco e meu cansaço e pedi três chais. Vi e gravei a preparação da bebida, feita por um deles. O outro corria em direção a uma pipa que teve a linha cortada. Na India, pipa ainda é febre entre as crianças. Um deles me disse ter 16 delas, só das que caem do céu. Tirei algumas fotos enquanto brincava também. Como havia acontecido constantamente em Jaipur, fui abordado para posar para fotos com turistas indianos.


Voltei para a cidade e já do outro lado dela, encontrei Karina, a argentina que conheci junto com o casal francês no ônibus para Pushkar. Fomos visitar um templo Sikh. Para entrar, cobrimos as nossas cabeças e tiramos os tênis. Paredes e colunas de mármore branco. Portas de madeira com desenhos florais em alto relevo. O teto em mosaico colorido. E lá no fim do corredor, um sikh, com seu turbante laranja, observando a movimentação dos visitantes. No retorno ao centro, me atentei às lojas de  objetos de couro. Muitas bolsas, malas e mochilas, parecidas com a que meu pai me trouxe de Caruaru uma vez. Karina me disse sobre o hostel em que estavam. Milk Man. Como resolvi ficar mais um dia na cidade, decidi me mudar para lá na manhã seguinte. O solitário Chacha's Garden era azul   e entediante demais. Passamos no local e conheci a dona.  Perguntei se havia camas vagas. Ela confirmou. Agradeci e afirmei que retornava no dia seguinte. Voltamos para as ruelas de Pushkar.


Já estava há alguns dias sem entrar na internet. Me despedi de Karina e fui para uma Lan House na rua principal. Uma hora depois, caminhei até o lago. Sentei-me perto de um jovem casal loiro. Atrás de mim, no terraço de uma casa, começava a música de tambores, que todo os dias, 17h, preenche o pôr do sol no Sarovar. Me estiquei no sol e fotografei algumas cenas, inclusive a do loiro casal sendo importunado por um jovem boi curioso.

 Enquanto escutava os tambores e observava um ganso bravo e sozinho, uma legião de crianças parou na minha frente. Conversamos e dei todas as informações que me pediram. Então prepararam-se para as fotos. Enquanto isso, outra parte da familia pedia fotografias à dupla ao meu lado.  As mães das crianças também chegaram e posaram para mim. Antes de ir, um jovem ainda me pediu o óculos de presente. Disse que era presente. Ele não mexeu a cabeça, como os indianos fazem quando estão contrariados. Se despediram e terminei meu pôr do sol em silêncio. O tempo esfriava e meus pés seguiam quentes, pela pedra que guardava calor do sol.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Simplesmente Pushkar


Acordei antes da 7h. Arrumei a mala e minha cara e fui para a rodoviária de Sindhi Kamp. Cerca de 1,5km do Vaishnavi. Me embrenhei entre ônibus, bicicletas, rickshaws e fui atrás do guichê para pegar a passagem, que segundo o gerente do hotel, já havia reservado pra mim. Quando perguntei sobre o assunto, o funcionário deu risada e estendeu a mão. “125 rúpias.” Estava ótimo, sem reserva mesmo ia pagar mais barato. Entrei no ônibus, o clássico indiano, só que com o chão decorado com cascas da amendoim. Fiquei atrás de um casal de franceses e uma argentina. A francesa parecia ser experiente em India e dava dicas à hermana. Eu aprendia junto.

Aos poucos o ônibus tinha os acentos preenchidos. Um quarteto alemão completou o time dos estrangeiros. No caminho, o ônibus, depois de algumas freadas, tocou em frente, sem mais aceitar os acenos na estrada.
Em três horas estávamos em Pushkar, uma das cidades sagradas da India. Peguei algumas dicas com o casal francês e me despedi ao encontrar meu hostel, bem ao lado da parada de ônibus. Eles seguiram.

O Chacha's Garden fica na beira da rua principal de acesso à cidade.  Parecia vazio quando cheguei. É uma casa grande, com um pátio central, de areia e terra no chão, todo pintado de azul. Um jovem cuida da recepção e de tudo mais. O gerente, Pradesh, aparece vez ou outra, sem hóspede então. O quarto é simples, com duas camas de cimento e colchões de palha dura. Sem aquecimento, o jeito é dormir de calça jeans e cobertores.

Após ajeitar umas coisas na mala e decidir largar umas roupas de lembrança, fui para rua. Por uma viela lateral aberta entre montes de entulho e lixo, cheguei ao Varah Temple. Acelerei o passo e cheguei até a rua principal do centro. Lojas de roupas, joias, incensos e pimentas, bancas de frutas, objetos de madeira, facas e espadas, restaurantes, cursos de ioga, livrarias, bares, hoteis...


Pelo Varah Ghat, cheguei à beira do lago Pushkar Sarovar. Logo fui abordado por um homem, que me levou até a escadaria e me pediu para tirar o tênis. Em segundos, já estava falando com outro homem, que na beira do lago se dizia Holy Man, fizemos umas preces, repeti algumas palavras em hindi e inglês, joguei flores no lago, pedi boa sorte e deixei um troco pra ele, que amarrou uma pulseira no meu punho.



Agora já tinha sido “batizado”, não seria mais abordado por nenhum santo na minha estada perto do lago.  Qualquer coisa, mostre a pulseira. Ainda olhando para o pôr do sol que começava a dar sinais, lembrei que a perdi a aula sobre os ghats que a francesa deu no ônibus. Ghats são os templos à beira do lago, ou do rio, onde se fazem rezas e atividades religiosas. Em Pushkar, são mais de 20.

Sentei-me para admirar ainda mais o Sarovar. Conversei com um turco, que também está viajando sozinho pela região. Havia passado um mês no Nepal e agora mais um mês pela India. Ele contou que o hotel dele já havia dado um cordão para ele colocar no pulso e não ser abordado no lago. Resmunguei do Chacha's. Me despedi e fui caminhar. Parei em outra ponta do Sarovar e o sol começou  se aproximava da água.  Do lado esquerdo, a silhueta de um morro com um templo. Ao fundo, o templo de Brahma, o mais famoso ponto turístico de Pushkar,  único no mundo.

Também acompanhando o cair do dia, conversei com um trio, finlandesas e argentina, que finalizam um mês de trabalhos voluntários em Delhi. Passam o final de semana na cidade.


Me sentei em uma arquibancada que deve ter sido projetada para o pôr do sol. Tinha bom público. Acompanhei o fenômeno com uma bela música  tocada e cantada por um senhor, logo atrás de mim, que fazia uma pequena serenata para um casal. No lago, o barulho da cidade não chega e é possível escutar até o bater de asas dos muitos pássaros que vivem ali.

Mas a partir das 17h, o que se houve é música. Além dos cantadores na arquibancada, pude ouvir outras canções ao redor do lago. Em uma parte, abaixo de uma árvore, um grupo fazia percussão e só parou quando os sinos  das 18h, tocados por alguns senhores em diversas partes do Sarovar, iniciaram um ritual que marcou a chegada da noite.


Pushkar está invadida pelos estrangeiros. Muitos parecem já ser “de casa”. Outros até que moram ali. Uma quantidade de jovens que não vi nem em Goa. Vestidos com as coloridas roupas locais, cruzam a rua-mercado displicentes, entre as motos, as buzinas e os faróis.

Antes de voltar ao hotel, reencontrei o homem que havia me levado ao “Holy Man”. Quis conversar em italiano e me disse que mora numa cidade perto de Milão e que passa férias em sua terra natal.  Contou sobre amigos brasileiros que trabalharam com ele na colheita de uvas. Comprei bananas e água e fui para o Chacha's, hostel que até agora é habitado exclusivamente por mim. Fui dormir com cheiro de incenso, o cheiro de Pushkar.








A beleza do Amber Palace salva Jaipur


Último dia de Jaipur, a meta era conhecer o Amber Palace, fora cidade alguns quilometros, o Nahargarth Fort e o museu Albert Hall, em Pink City. Novo motorista. Novo preço. Novas aventuras. Dessa vez começava já no rickshaw, quando entrava em cada contramão: vielas, ruas e avenidas, não tinha problema pra ele. “Vamos primeiro ao Nahargarth Fort, tudo bem?” Não estava, mas fazer o que? “Beleza, vamos lá.”

O jovem me deixou no pé do morro. Depois descobri que era possível subir com rickshaw (ou tuc-tuc). Na subida, muitas amizades. Os indianos tem o hábito de cumprimentar mesmo os turistas. Estendem e mão, perguntam se está tudo bem, de onde é e tudo mais. Alguns pedem um dinheiro depois. Como estava com a máquina na mão, recebi pedidos para fotos. Fotografei crianças, disputa de quem fazia a maior bola de chiclete, jovens em suas motos, todos com pose e Jaipur, lá embaixo, na moldura.

Lá em cima, o Nahargarth recebe muita gente. Um restaurante chama o público. Eu era o único turista não local. Além disso, o local é como um parque, com uma grande área verde, um anfiteatro e outras construções. Molecada em grupo, correndo, fumando e namorando no alto da cidade.


Mas o próprio Nahargarth Fort, do século 19, está abandonado. Mesmo assim dá para ter uma ideia da grandiosidade que foi. Com a cor amarela, hoje suas janelas e guaritas guardam um exército de pombas.
Hora de ir pro Amber Palace, um dos pontos turísticos mais famosos do Rajastão. Um Forte que começou a ser feito no século 17, com muros que atravessam quilometros e um palácio no centro.

 Dessa vez, encontrei muitos “gringos”, mas a maioria ainda era de turistas indianos, o que achei interessante. Na minha ignorância sobre o país, o turismo interno estava incluso. Diferente de Nahargarth, o Amber está bem cuidado. Em algumas partes, há sinais de reformas. Para chamar os turistas, um estúpido passeio de elefantes ocorre no local. Para o bicho caminhar no ritmo desejado, leva chutes e algumas pauladas na cabeça.

Mas o lugar é lindo. Com um lago criado na época, que servia para abastecer o forte. No meio, uma pequena península com um colorido jardim. Ao redor, uma vila, que já foi uma cidade dentro dos muros, as montanhas com cor de cerrado e o céu azul.

Com o tempo que fiquei no Amber, perdi o horário paa ver o Albert Hall. Hora de ir para o hotel? Não. Nova proposta de conhecer as maravilhas dos tecidos do rajastão. “A verdade é que ganhamos um trocado para levar turistas lá”, admitiu o motorista. Disse que não era europeu e não tinha grana como europeu. “Tudo bem, não precisa comprar. Só fala um pouco com eles.”

Não soube dizer não, mas bolei uma estratégia. Chegaria já com uma meta. “Quero ver as camisas indianas”. Mesmo assim, ainda escutei um pouco sobre a história da loja e explicações sobre doações a instituições carentes “só digo isso porque você é jornalista”, afirmou o lojista.

O tempo passou e estava saindo com as mãos vazias. Já tinham me deixado com um funcionário, mas logo o dono voltou. “Gostei de você. Vamos chegar em um acordo.” Chegamos. Mais uma vez, saí com uma sacola e de novo, o rapaz do rickshaw recebeu olhares e frases pouco amigáveis. “Nunca mais me traga esse tipo aqui” Certeza que ele disse isso.

 Nova refeição típica do Rajastão. Kadi Pakora. De sobremesa, uma fruta que havia comprado no dia anterior, numa caminhada por Bani Park. Chikoo, com cara de kiwi e gosto de noz. Jaipur nao matou a saudade de Goa.

Jaipur de buzinas e macacos


Uma hora de estrada e cheguei ao aeroporto de Dabolim, no norte de Goa. Queria ter ficado mais em Palolem. Assim como outras estações de transporte na India, o aeroporto também também tem sua parte caótica. Todo pintado de rosa, o Dabolim passa por uma ampliação gigantesca. Havia um atraso de quase duas horas. Circulei e entrei no portão 2. O voo até Mumbai passou rápido com um livro na mão. O único momento em que coloquei a cara na janela foi para ver a saída de Goa. A baía, o litoral, os navios, as encostas à beira do mar arábico. O aeroporto bem na beira do mar.

Em Mumbai, jogo rápido. Desci, comi algo após passar pelo raio x e fui para o outro avião. Daí comecei a reparar nas pessoas que iam comigo para Jaipur. Tinham quatro brasileiros, dois casais, cariocas, acho. Muitos europeus, claro. Menos grupos, mais pessoas sozinhas, ou casais. Não tão jovens, como em Goa.
Indo para o hotel não enxerguei nada do que tinha lido sobre Jaipur, A Cidade da Vitória. Nada de palácios, torres, minaretes, fortes e templos.

 Estava em New City, era isso. E ela é feia como as novas cidades, ainda mais embagulhada pela sujeira dominante. Longas avenidas, milhões de carros, trânsito caótico e o barulho permanente das buzinas. Impossível não usar buzina no trânsito indiano. Já tinha visto Mumbai, agora Jaipur, a capital do Rajastão.
O Vaishnavi Hotel fica em Bani Park, um bairro atrás da estação ferroviária. Um prédio com estilo indiano, com varandas de arquiteturas circulares e luzes de várias cores. Dentro, desenhos de deuses hindus e mais cores. No terraço, um restaurante de menu quase todo vegetariano. Quase.

O quarto que havia pedido era sem banheiro. Iria dividi-lo com outros hóspedes. Mas me deram uma suíte, que ao mesmo tempo, podia ser divida, em partes, com outras pessoas. Isso porque a parede do banheiro não subia até o teto. Uma grade separava o meu de outro banheiro. Se não dividia a pia, privada e chuveiro, compartilhamos cantorias, barulhos e cheiros nas três noites em que fiquei lá.

Saí do hotel no dia seguinte com o objetivo de ver a Pink City, parte antiga da cidade, que possui os principais pontos turísticos. Me preparei para a negociação com o pessoal do rickshaw. Feito. Por 300 rupias, me levariam em 4 ou 5 locais, me esperariam entrar, ver e sair e me deixariam na frente do hotel. Mas em Jaipur  em toda India, você deve estar preparado para negociar e tudo mais. Eu não estava (não estou).

Para começar, me levaram em um lugar que não havíamos combinado. Fomos ao templo dos Macacos, em uma das saídas da cidade. Adentramos em um portal vermelho e uma ladeira à frente. Porcos, vacas, cabras, cachorros e macacos dividiam o mesmo espaço. Logo um jovem se aproximou e fomos conversando ladeira acima. Era guia quando estava de férias. Aos 16 anos, quer entrar na faculdade para então, tornar-se um guia melhor.

Os macacos estavam preguiçosos, ainda bem. O garoro me disse que na semana anterior, um inglês havia sido mordido. “Eles acabaram de comer, então agora só querem sol”, disse. Mesmo assim, quando ele fingia oferecer algo e mostrava a mão vazia, os símios mostravam os dentes e resmungavam. “Eles ficam agressivos”, brincou. Eu nem achei graça.


No alto, perto do templo, fiz algumas fotos, dei a contribuição e caminhei de volta. No percurso até a Pink City, pude ver mais da cidade. Suas bancas de frutas, verduras e cereais. Algumas montadas em algo como carroças, na beira das ruas, deixam a cidade, que lá do alto tem um tom azulado, mais colorida. Foi em Jaipur que vi as cenas típicas da India. Em meio ao asfalto e carros novos e velhos, vacas, camelos e elefantes. Os dois últimos, como meios de transporte. Os elefantes pintados com tintas vibrantes. Símbolos de boa sorte ornavam suas cabeças e barrigas.

Conheci o Jantar Mantar, que é um observatório antigo, século 18 e 19. Grandes construções de instrumentos para fazer medições astronômicas. O City Palace fica no centro da velha Jaipur. Dentro, a histórias dos marajás, seus feitos, suas conquistas e riquezas. Aé uma parte dedicada aos esportes que praticavam: o críquete e principalmente, o polo.


Ainda passei pelo Hawa Mahal, o famoso palácio vermelho, que no fim das contas, achei médio.
O horário para novas visitas já estava encerrado, mas o motorista ainda tinha a última carta no baralho, pra ele. Me levar às compras.

Lá fui eu para uma loja de tecidos. Não sei dizer não, muito menos em hindi. Tudo muito bonito, todos muito educados. Tomei chai e conversei durante uma hora com o vendedor, que usou todas as formas para ganhar um cliente, desde falar da família, até assemelhar minha cara a de um ator indiano de filmes de ação. “Quando vi você, me lembrei dele.”

Saí de lá sem uns tostões, mas acho que o trocado do motorista não deve ter sido alto. Vi a cara feia do dono da loja quando me despedia da turma.

 Fechei com um Gatta Masala, prato típico do Rajastão, no restaurante do topo do hotel. Escutando a chuva, a primeira desde a chegada na India.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Old Goa



O futebol adiou minha visita a Old Goa, que foi capital do estado português na Asia. Goa chegou a ser a principal colônia portuguesa, no sáculo XVI, mas depois, por problemas econômicos e sociais, perdeu espaço para o Brasil.

As bolhas nos pés não me deixaram ir muito longe durante um dia. Mas com band aids nos dedões tudo estava bem e fui encontrar uma parte do que os portugueses fizeram e deixaram na India. Old Goa está há 67km de Palolem.

O trajeto, porém, não é dos mais fáceis. Além das estradas precárias, é preciso atravessar uma serra, em meio a uma bela floresta. Na minha cabeça, em 1h40 estaria em Old Goa. Minha mente ainda não estava acostumada à India. Peguei a primeira condução na rua principal de Palolem. Me sentei ao lado de um senhor em um ônibus muito antigo, com barras de ferros atrás dos bancos para apoio.

No início, apenas eu e uma jovem bem loira, que estava de pé, como turistas. Depois, um trio de garotas que falavam inglês e um casal japonês também subiu. Andamos até o terminal de ônibus de Canacona.


O destino era Margão, ou Madgaon, ou ainda “Marigaomarigaomarigaomarigao” (como dizem os cobradores dos ônibus de forma impressionantemente veloz, chamando os passageiros).


Na espera do ônibus, que fazia um pit stop para troca de pneu ali mesmo ao nosso lado, acompanhamos uma partida de badminton no meio da pista do terminal. Após trocarem o pneu do ônibus colorido, entramos e partimos para Marigaomar....

Durante o caminho, perguntei para pessoas diferentes se estavamos indo mesmo para Margão e se de lá era possível ir para Old Goa. Fui aconselhado a fazer isso. Ter mais de uma opinião.

Era hora do almoço. Não havia conseguido partir pela manhã devido a minha pontualidade. Isso quer dizer, estava quente e as pessoas estavam se deslocando, crianças saindo da escola. O ônibus começou a ficar muito cheio. Tirava a filmadora da mala, vez ou outra, para gravar algumas cenas. Em um delas gravei o escrito no ônibus (em todos, aliás), “No smoking”e “No Spitting”. A mania de cuspir é bem difundida pelos indianos.

Um pouco mais de uma hora, chegamos à capital de Goa. Assim como Mumbai, mas em proporções menores, muito menores, Margão é uma cidade de muitos prédios mal pintados e deteriorados, misturados à novas construções. Soma-se a isso, uma grande quantidade de terrenos baldios e praças coloridas. Igrejas também ornam o visual. Cerca de 30% de Goa é católica.

Descemos no meio da pista de manobra. Buzinas, berros e o cheiro de gasolina. Saí perguntando onde pegava a condução para Old Goa. Escutei de um que teria que ir a Panjim, primeiro. Mas logo um motorista disse que ia para Old Goa. Perguntei pra ele e para mais dois, um era o cobrador. Ia passar por lá. Entrei. Estava vazio ainda e aproveitei para tirar umas fotos sem incomodar ninguém. A viagem foi demorada. Por alguns momentos, quando via placas que não eram obedecidas pelo condutor, pensava que chegaria em outro lugar, “Será que errei na pronuncia e o cara entendeu outra cidade?”, me perguntei.

Paramos em Ponda, em um lugar cheio de rickshaws, ônibus e buzinas. Todos desceram e eu me preparava para descer e reclamar. O motorista me pediu para continuar no banco. Beleza. Demoramos mais quase uma hora e meu tempo em Old Goa ficava curto, mas cheguei. Desci numa rótula e de longe, vi a catedral da Sé, branca e com sua torre única. A outra desmoronou há muitos anos.

Mancando, fui primeiro para a basíica de Bom Jesus. Escura, toda de pedra, com alguns arcos na lateral. Muitos turistas indianos liam sua história em muro ao lado. Por dentro, branca. Com o teto (branco) feito de grandes tábuas de madeira. Janelas altas e lá na frente o altar com todo o ouro que a igreja costumava usar e abusar.


Na parte de trás, em um canto meio escondido, o caixão onde dizem estar os restos mortais de São Francisco Xavier, um dos pioneiros da Companhia de Jesus e chamado pela Igreja de Apóstolo do oriente, pela quantidade de pessoas convertidas por ele ao cristianismo.

Saí da igreja e passei por duas imensas árvores na praça em frente. Caminhei mais um pouco até chegar na Sé. Dei a volta no largo à sua frente. Havia um casamento. Adentrei, mas fiquei pela lateral esquerda. Fotografei algumas das oito capelas que a catedral possui. Ela é a maior construção portuguesa na Ásia. Assim como a maior parte dos prédios, ela está pouco cuidada. Infiltrações, pisos quebrados, madeiras soltas e muita sujeira se misturam aos belos quadros e esculturas.


Já era tarde e precisava pensar na volta. Passei ainda pela a igreja de São Francisco de Assis, que achei a mais interessante, pois não havia bancos, somente a estrutura. Parecia um museu. E um bonito portão de madeira.
A capela de Santa Catarina, logo abaixo, é feita de pedra, com alguns traços vermelhos. Já estava fechada, mas a sua volta, uma praça, com alguns pedaços de antigas esculturas e colunas, reunidos, lado a lado. Crianças brincavam de esconder ali. Ainda mais abaixo, o rio Mandovi , que foi por anos o porto de atracação dos navios portugueses. Ele é imenso. No caminho para Paijim, pude ver alguns navios atracados.

Hora de voltar. Não havia ônibus direto para Margão. Teria que ir a Paijim, principal cidade do norte de Goa, distante 7km dali. Subi num ônibus cheio. Ao chegarmos ao terminal da cidade, acelerei o passo para achar o ponto de ônibus para Margão. Já começava a escurecer. Segui uma fila imensa e lamentei pelas pessoas que lá estavam. No guichê, perguntei sobre o meu ônibus. A fila também o queria.

Escureceu e já estava gravando umas cenas com a filmadora, enquanto umas pessoas olhavam curiosas. Puto, um jovem turista resmungava pela situação. Após tentativas mal e bem sucedidas dos babacas furadores de fila, comprei meu bilhete e subi no ônibus.

Mal cabiam minhas pernas no banco. Sonado com o chacoalhar na estrada, quase cai em cima do vizinho de acento umas cinco vezes. “Sorry”, eu dizia, mal abrindo os olhos.

Sem paradas, chegamos em Margão até que rápido. Eram 20h e uma hora antes havia saído o último ônibus para Canacona, disse o funcionário do terminal. E agora? Perguntei se tinha algum que ia para perto do meu destino. Ele sugeriu que pegasse algum ônibus que estivesse descendo para Kanataka, o estado que está atrás e abaixo de Goa.

Tive que esperar na rua, fora do terminal. Lá, um cara sugeriu que fosse para a estação de trem, pois 21h30 deveria passar um que me levaria a Canacona. Uma hora e meia de espera era demais e eu já cogitava um taxi. Perguntei a um grupo sobre o tal ônibus oara Kanataka e me confirmaram que passaria por ali. E passou. Passaram. Dois.

Fui no da frente, perguntei para o motorista se ele iria para o tal lugar, que até o momento, achava que era uma cidade. Ele respondeu. “Para onde você vai?” “Para Canacona”, respondi. “Entre no ônibus, nós passaremos por lá. 100 rúpias, por favor”. Não era hora de pechinchar, pensei. E eu nem sei fazer isso. Dei o dinheiro e seu ajudante me levou ao meu lugar.

Era um bed bus e fiquei feliz. Perguntei quanto tempo até meu destino e ele me disse que avisaria, meio injuriado. Tinha uma hora de cama. Deitei e relaxei.

Quase 22h desci em Canacona. Pulei no primeiro rickshaw que apareceu e fui direto para Palolem. Ainda tinha a mala para arrumar. Rumo a Jaipur.