O despertador tocou umas 5h30 da manhã
de terça, 8/1/2013. Havia deitado 2h30. Então enrolei mais um pouco
com a desculpa que ainda nem tinha café da manhã, muito menos
transporte para me levar ao aeroporto. Umas seis e pouco, levantei e
rapidamente estava pronto, após uma ducha. Fui para o café da manhã
e comi bem. Ainda tinha pão e queijo no meu quarto, que seria o
alimento pré vôo. Peguei as mochilas, entreguei o cartão e sai do
AO. Ainda não tinha amanhecido e já era quase 8h. Frio.
Caminhei
pelo Herzogstrasse até uma outra que não me lembro o nome, que me
deixou ao lado da Friedrich Bahnof (acho que é isso). Uma mulher me
ajudou a comprar o bilhete. Estava um pouco sonado ainda. Coloquei o
fone de ouvido e logo o trem chegou. Moderno e silencioso, foi
passando por toda a zona norte de Dusseldorf, as pessoas indo
trabalhar. Estudar, turistas com suas malas imensas. Em pouco mais de
20 minutos, chegava ao aeroporto.
Entreguei a mala no check in, peguei os
bilhetes e fui dar uma volta. Foi no meio do caminho que lembrei do
pão com queijo esquecido em um bolso da mala despachada. “Fodeu,
vão travar a mala. Alimento perecível aberto, queijo na India, sei
lá”, pensei isso e mais algumas dúzias de bobagens.
Mas não tinha o que fazer. Também
não tinha o que fazer no aeroporto, então fui para o portão. Após
uma tremenda fila na revista de malas e roupas, ainda tive que
enfrentar o papo chato de um funcionário que encrencou comigo. “O
que você vai fazer na India? Por que está na Alemanha? Quanto tem
em dinheiro?”
Comi uma mini pizza e comprei uma água
para ler e esperar a chamada do vôo. Tentei achar um guia em inglês
da India (É, eu estou sem guia). No avião, peguei um lugar no
corredor, que para minhas pernas, é o menos pior. Mas vi que alguns
outros grandões estavam sendo transferidos para locais melhores.
Também quis e mudei. Fui sentar em um lugar que tinha muito espaço
para as pernas e perto do banheiro.
Ao meu lado, um cara com jeito
árabe, que passou a viagem toda escrevendo o que parecia ser um,
manual, em um sistema que parecia o excel. Admito que tentei ler,
mas era um papo bem técnico em inglês. Preferi acompanhar os
programas que a Etihad oferecia na televisão de cada assento. Vi um
pedaço do jogo entre Manchester City e Queens Park Rangers, que deu
o título inglês ao City na temporada passada (Time patrocinado pela
companhia aérea). Também vi o video dos 500 maiores gols da
história, que achei a maior cascata, porque não tem nenhum gol do
Romário, nem do Ronaldo, muito menos aquele do França, de
bicicleta. Françoaldo
era foda.
E por fim, ainda treinei o italiano no filme Piazza
Fontana, sobre as disputas políticas e ideológicas na Itália entre
as décadas de 60 e 70.
Incontáveis horas depois, chegamos em
Abu Dhabi, que de cima, parece um grande conglomerado de condomínios,
desses dos coxinhas, cheios de luzes. Por sinal, acho condomínio
fechado uma merda. Vi também o The Leaning, um prédio em forma de
tocha, meio torto, que tinha visto no documentário da NatiGeo. Tudo
muito cheio de opulência. Ah, também vi de cima, por alguns
segundos, a partida entre Emirados Arabes e Bahrein, que depois
acompanhei pela TV, no saguão do aeroporto.
Cerca de uma hora foi o tempo que
aguardei no aeroporto de Abu Dhabi, que é dominado pela Etihad. Não
vi um avião de outra companhia. E eram muito aviões. O aeroporto é
grande.
Foram mais 3h de viagem até Mumbai,
aproximadamente, num avião mais modesto, com um casal de israelenses
meio folgados ao lado.
Passei pelo saguão dos passaportes,
mostrei o meu e fui ao pátio pegar minha mala. Lembrava do pão com
queijo quando a vi, deslizando na esteira. Tinha um bolso que parecia
aberto. “É o bolso do pão. Eu sabia”.
Antes de pegá-la, um funcionário a
agarrou e antes que eu pudesse dizer alguma coisa, a colocou no chão,
junto com outras. Corri, abracei a mala e sai andando sem olhar para
trás. Passei pela esteira do raio x e pronto. Pronto, na India.
Mas era madrugada e não tinha para
onde ir. Fiquei no corredor de saída, perambulando. Vi que muita
gente estava na mesma situação. Encostei na parede de vidro e
fiquei ali, vendo as pessoas e o tempo passar. Depois de passar umas
informações para os israelenses que vieram do meu lado na viagem,
logo um veio conversar. Era Ahmad, um indiano falador e gente fina.
Estava voltando de Moscou. Foi para lá passar um mês de férias.
Mas não aguentou e em 10 dias, sendo nove dentro do aeroporto russo,
voltou pra India. “Muito frio e muito caro. Uma água, seis
dólares”, disse. Fiquei me perguntando porque ele não tinha
pesquisado preços antes. Mas sei lá, eu ainda acho que nessa viagem
vou me fazer essa pergunta, então não disse nada.
Estava esperando dar 8h para ir pegar
um ônibus para Bangalore, sua cidade natal, que segundo ele, é bem
mais legal que Mumbai. Contei que ia para Goa e ele não titubeou.
“Já fui para lá. Você pode encontrar o que você quiser por lá.
Entendeu? O que você quiser?” Entendi, disse, mas também respondi
que não estava procurando essas coisas agora. Queria uma cervejinha
apenas. “Sim, mas e você quiser, tem”.
Uma hora, Ahmad me pediu que olhasse as
coisas dele, pois precisava fazer alguma coisa que não entendi bem.
Dei um tempo eu levantei para esticar as costas e dar uma apurada ao
redor. Ele estava em um canto, do outro lado do corredor, virado pra
Meca, rezando.
Voltou e perguntou se tinham muitos
ilslâmicos no Brasil. Disse que poucos. O cara do café e chá
passou com o carrinho e ele me ofereceu um. Agradeci. Era um café
com leite bem doce. Me indicou onde eu poderia pegar informações
de quanto tempo e quanto gastar pra chegar ao terminal Lokmanyatilak,
onde pegaria o trem para Goa. Também papeamos sobre nossas
profissões, eu jornalista, ele dono de uma pequena joalheria, e
falamos de cricket e futebol. Torcedor do Real Madrid, mas sabe jogar
é cricket. Depois dormiu encostado no carrinho de malas. Enquanto eu
tomava conta das coisas.
Ao acordar, o rapaz se espreguiçou e
nos despedimos. Era hora de rumar para Bangalore. “O que vai fazer
no restante de suas férias?”, perguntei. “Voltarei ao trabalho,
acabaram as férias”, respondeu, sorrindo. Nos cumprimentamos com
um abraço estilo indiano. Voltei ao meu posto e peguei as mochilas.
Tinha que descolar o taxi para me levar ao terminal. Até as luzes do
corredor de saída estava, se apagando, o dia amanhecendo, poucos
turistas ainda perambulavam pelo lugar. Alguns esperavam o guichê de
reservas de trem abrir. Decidi não esperar.
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