O
futebol adiou minha visita a Old Goa, que foi capital do estado
português na Asia. Goa chegou a ser a principal colônia portuguesa,
no sáculo XVI, mas depois, por problemas econômicos e sociais,
perdeu espaço para o Brasil.
As
bolhas nos pés não me deixaram ir muito longe durante um dia. Mas
com band aids nos dedões tudo estava bem e fui encontrar uma parte
do que os portugueses fizeram e deixaram na India. Old Goa está há
67km de Palolem.
O
trajeto, porém, não é dos mais fáceis. Além das estradas
precárias, é preciso atravessar uma serra, em meio a uma bela
floresta. Na minha cabeça, em 1h40 estaria em Old Goa. Minha mente
ainda não estava acostumada à India. Peguei a primeira condução
na rua principal de Palolem. Me sentei ao lado de um senhor em um
ônibus muito antigo, com barras de ferros atrás dos bancos para
apoio.
No
início, apenas eu e uma jovem bem loira, que estava de pé, como
turistas. Depois, um trio de garotas que falavam inglês e um casal
japonês também subiu. Andamos até o terminal de ônibus de
Canacona.
O
destino era Margão, ou Madgaon, ou ainda
“Marigaomarigaomarigaomarigao” (como dizem os cobradores dos
ônibus de forma impressionantemente veloz, chamando os passageiros).
Na
espera do ônibus, que fazia um pit stop para troca de pneu ali mesmo
ao nosso lado, acompanhamos uma partida de badminton no meio da pista
do terminal. Após trocarem o pneu do ônibus colorido, entramos e
partimos para Marigaomar....
Durante
o caminho, perguntei para pessoas diferentes se estavamos indo mesmo
para Margão e se de lá era possível ir para Old Goa. Fui
aconselhado a fazer isso. Ter mais de uma opinião.
Era
hora do almoço. Não havia conseguido partir pela manhã devido a
minha pontualidade. Isso quer dizer, estava quente e as pessoas
estavam se deslocando, crianças saindo da escola. O ônibus começou
a ficar muito cheio. Tirava a filmadora da mala, vez ou outra, para
gravar algumas cenas. Em um delas gravei o escrito no ônibus (em
todos, aliás), “No smoking”e “No Spitting”. A mania de
cuspir é bem difundida pelos indianos.
Um
pouco mais de uma hora, chegamos à capital de Goa. Assim como
Mumbai, mas em proporções menores, muito menores, Margão é uma
cidade de muitos prédios mal pintados e deteriorados, misturados à
novas construções. Soma-se a isso, uma grande quantidade de
terrenos baldios e praças coloridas. Igrejas também ornam o visual.
Cerca de 30% de Goa é católica.
Descemos
no meio da pista de manobra. Buzinas, berros e o cheiro de gasolina.
Saí perguntando onde pegava a condução para Old Goa. Escutei de um
que teria que ir a Panjim, primeiro. Mas logo um motorista disse que
ia para Old Goa. Perguntei pra ele e para mais dois, um era o
cobrador. Ia passar por lá. Entrei. Estava vazio ainda e aproveitei
para tirar umas fotos sem incomodar ninguém. A viagem foi demorada.
Por alguns momentos, quando via placas que não eram obedecidas pelo
condutor, pensava que chegaria em outro lugar, “Será que errei na
pronuncia e o cara entendeu outra cidade?”, me perguntei.
Paramos
em Ponda, em um lugar cheio de rickshaws, ônibus e buzinas. Todos
desceram e eu me preparava para descer e reclamar. O motorista me
pediu para continuar no banco. Beleza. Demoramos mais quase uma hora
e meu tempo em Old Goa ficava curto, mas cheguei. Desci numa rótula
e de longe, vi a catedral da Sé, branca e com sua torre única. A
outra desmoronou há muitos anos.
Mancando,
fui primeiro para a basíica de Bom Jesus. Escura, toda de pedra, com
alguns arcos na lateral. Muitos turistas indianos liam sua história
em muro ao lado. Por dentro, branca. Com o teto (branco) feito de
grandes tábuas de madeira. Janelas altas e lá na frente o altar com
todo o ouro que a igreja costumava usar e abusar.
Na
parte de trás, em um canto meio escondido, o caixão onde dizem
estar os restos mortais de São Francisco Xavier, um dos pioneiros da
Companhia de Jesus e chamado pela Igreja de Apóstolo do oriente,
pela quantidade de pessoas convertidas por ele ao cristianismo.
Saí
da igreja e passei por duas imensas árvores na praça em frente.
Caminhei mais um pouco até chegar na Sé. Dei a volta no largo à
sua frente. Havia um casamento. Adentrei, mas fiquei pela lateral
esquerda. Fotografei algumas das oito capelas que a catedral possui.
Ela é a maior construção portuguesa na Ásia. Assim como a maior
parte dos prédios, ela está pouco cuidada. Infiltrações, pisos
quebrados, madeiras soltas e muita sujeira se misturam aos belos
quadros e esculturas.
Já
era tarde e precisava pensar na volta. Passei ainda pela a igreja de
São Francisco de Assis, que achei a mais interessante, pois não
havia bancos, somente a estrutura. Parecia um museu. E um bonito
portão de madeira.
A
capela de Santa Catarina, logo abaixo, é feita de pedra, com alguns
traços vermelhos. Já estava fechada, mas a sua volta, uma praça,
com alguns pedaços de antigas esculturas e colunas, reunidos, lado a
lado. Crianças brincavam de esconder ali. Ainda mais abaixo, o rio
Mandovi , que foi por anos o porto de atracação dos navios
portugueses. Ele é imenso. No caminho para Paijim, pude ver alguns
navios atracados.
Hora
de voltar. Não havia ônibus direto para Margão. Teria que ir a
Paijim, principal cidade do norte de Goa, distante 7km dali. Subi num
ônibus cheio. Ao chegarmos ao terminal da cidade, acelerei o passo
para achar o ponto de ônibus para Margão. Já começava a
escurecer. Segui uma fila imensa e lamentei pelas pessoas que lá
estavam. No guichê, perguntei sobre o meu ônibus. A fila também o
queria.
Escureceu
e já estava gravando umas cenas com a filmadora, enquanto umas
pessoas olhavam curiosas. Puto, um jovem turista resmungava pela
situação. Após tentativas mal e bem sucedidas dos babacas
furadores de fila, comprei meu bilhete e subi no ônibus.
Mal
cabiam minhas pernas no banco. Sonado com o chacoalhar na estrada,
quase cai em cima do vizinho de acento umas cinco vezes. “Sorry”,
eu dizia, mal abrindo os olhos.
Sem
paradas, chegamos em Margão até que rápido. Eram 20h e uma hora
antes havia saído o último ônibus para Canacona, disse o
funcionário do terminal. E agora? Perguntei se tinha algum que ia
para perto do meu destino. Ele sugeriu que pegasse algum ônibus que
estivesse descendo para Kanataka, o estado que está atrás e abaixo
de Goa.
Tive
que esperar na rua, fora do terminal. Lá, um cara sugeriu que fosse
para a estação de trem, pois 21h30 deveria passar um que me levaria
a Canacona. Uma hora e meia de espera era demais e eu já cogitava um
taxi. Perguntei a um grupo sobre o tal ônibus oara Kanataka e me
confirmaram que passaria por ali. E passou. Passaram. Dois.
Fui
no da frente, perguntei para o motorista se ele iria para o tal
lugar, que até o momento, achava que era uma cidade. Ele respondeu.
“Para onde você vai?” “Para Canacona”, respondi. “Entre no
ônibus, nós passaremos por lá. 100 rúpias, por favor”. Não era
hora de pechinchar, pensei. E eu nem sei fazer isso. Dei o dinheiro e
seu ajudante me levou ao meu lugar.
Era
um bed bus e fiquei feliz. Perguntei quanto tempo até meu destino e
ele me disse que avisaria, meio injuriado. Tinha uma hora de cama.
Deitei e relaxei.
Quase
22h desci em Canacona. Pulei no primeiro rickshaw que apareceu e fui
direto para Palolem. Ainda tinha a mala para arrumar. Rumo a Jaipur.
Um comentário:
Boas histórias. Bela viagem.
Postar um comentário