Passava das 22h do sábado e tentava
achar algum gancho para “fazer amizade”com a turma de ingleses do
hotel. Enquanto comia alguma coisa no bar, escutava a turma que
jantava e papeava ao meu lado. Eram alguns grupos, que se juntaram no
decorrer dos dias. Acho que eram do norte da Inglaterra, pois não
entendia quase nada daquele sotaque puxado. Percebi uma peregrinação
indo para o lado esquerdo da praia. Todo mundo. indianos e europeus,
locais e turistas.
Foi aí que ví luzes das mais variadas
cores, no canto da pequena praia ao lado de Palolem.Desci a escada e
ganhei a areia, seguindo um grupo. Subi a pequena e frágil ponte e
subi a escada entre as pedras do fim da praia, atravessei a minúscula
praia que separa Palolem de Patnem, pela parte de trás das casas. Já
estava na boca e nada de som. Imaginava que a multidão
caminhava para Patnem mesmo quando vi a placa: Silent Noise.
O nome me fez lembrar imediatamente do
que iria ver em minutos, quando enfiei a cabeça por cima do muro ao
chegar no local. Era sim, uma daquelas festas em que todo mundo usa
um fone de ouvido, para evitar a reclamação de vizinhos. O “estilo”
até apareceu no Brasil, mas acho que não vingou. A fila crescia e
eu ali pensando. Via que outras pessoas tinham a mesma dúvida: “Como
será essa merda?”
Bom, em 15 minutos, fui ao hotel,
peguei dinheiro e entrei na fila. Nos primeiros cinco minutos vi que
o ambiente das boates indianas é parecido com qualquer outro:
Seguranças folgados e os babacas furadores de fila. “Será a única
balada que irei na India”, prometi a mim mesmo.
Ao pagar (caro) recebi o meu fone. Eram
três canais: azul, vermelho e verde. Cada um era de um dj que tocava
no evento. Ainda ressabiado, deixei o fone na mão mesmo e fui
escutar o papo do público. Desci uma pequena escada e cheguei na
pista. Na frente, os dj's azul e vermelho pulavam lado a lado, no
palco. Embaixo, um monte de cabecinhas iluminadas por três cores
dançavam. Ou tentavam dançar, já que para mim não havia música.
Todos dançavam sem som.
Reconheci o pessoal do hotel alguns
metros à frente. Não. Deixei eles pra lá e me fixei num degrau de
terra mais alto. Ali fiquei um bom tempo nao escutando música. Vi
que a turma azul e a vermelha dominaram o lugar. Os verdinhos, que
ouviam Trance, eram minoria. Mas eram os mais concentrados na música.
Vi duas meninas pingando de suor de tanto dançar. Estavam
encharcadas e descalças, como nas raves da época da faculdade.
Comecei a entrar na onda, ao mesmo tempo que resmungava porque estava
ali. Coloquei o fone: Verde era o trance, azul era o balanço (mas
eletrônico) e o vermelho, o tecno ou o Drum n' Bass.
Fui pegar algo pra tomar. Retomei meu
posto e me mantive de olho na pista. Além das meninas dançando,
reparei na relação dos indianos com a música eletrônica. Na minha
ignorância, não sabia como esse estilo tão celebrado no ocidente
atingia o leste do mundo, ainda mais a India. Um me chamou muito a
atenção. Além de parecer entrosado com a música do seu fone, ele
adentrou a roda dos meus colegas de hotel e passou a dançar com as
mulheres, já que os homens, com todo aquele molejo bretão, ficavam apenas mexendo a cabeça e berrando um com o outro.
E assim a noite correu. Os copos
serviram para eu parar de resmungar e prestar atenção nas figuras
da festa. Mais uma vez conclui que festas como estas são muito
parecidas em qualquer lugar do mundo. Inclusive na parte em que o
barman miguela na vodka. O que é triste. Mais tarde descobri que os
fones de ouvido fazem sucesso por causa de uma lei que proibe barulho
depois das 23h. Às 4h da madruga, quando uma festa dessas realmente
começa a ficar agradável, a música parou e todos foram convidados
a entregar os fones e deixar o local. Com o ouvido zunindo, me
lembrei de Londres e sua mania de cortar o barato antes da hora.
2 comentários:
Hahahahah. Silent noise. Muito bom.
Adorei. Não conhecia o silent noise. Coisa doida, hein?
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