Acordei
cedo, mas tarde para a convocação para o passeio no deserto. Hassam
tinha ido com Raoul, que pilota a moto do pai. Comi umas bananas e
fui atrás de uma internet. Encontrei Justine e Louise na German
Bakery (quase toda loja que vende pão não indiano tem esse nome), na frente do Lhassi Shop. Aproveitei para comer mais alguma
coisa, enquanto estava no computador. Comprei a passagem para Jaipur.
Combinei de almoçar com elas mais tarde. Pouco mais de uma hora
depois, fui andar pelo forte. Jaisalmer é patrimônio histórico
tombado, sua construção data do século XII, na época do império
Rajput. Mas isso não quer dizer que tudo ali é antigo e pouco
mexido. A impressão é que por dentro, tudo está e plena
transformação.
demolidas, novas obras, casas antigas,
puxadinhos, ruínas... Tudo amarelo, cor das pedras da região.
Depois soube que por dentro pouco resta de prédios antigos, com
exceção dos templos e palácios. Tudo foi destruído e vem sendo
alterado através dos anos. Boa parte da população que mora dentro
do forte é da casta brâmane, de maior poder ecônomico e social.
Condominio fechado não é idéia nova, apesar do pessoal de
Alphaville se achar pioneiro.
Almoçamos
em um restaurante chamado Little Tibet, na beirada do forte. Dali
podíamos ver o portão único de Jaisalmer, repleto de lojas e
restaurantes e ciganas que vendem braceletes e colares, com seus
filhos no colo.
Comemos
momos, os bolinhos com vegetais dentro e completamos com uma sopa e
Lhassi de limão, que até agora não consegui ver como é feito.
Em
comum acordo, rumamos para o lago de Jaisalmer. A tarde já acabava e
a vísta nem seria das melhores, continuamos mesmo assim. No caminho,
paramos em um Saffron Milk diferente e pior. Lá encontramos Mister
Papoo e seu filho, que acabava de deixar Hassam no hotel.
Chegamos
ao lago e a única luz vinha dos postes. Uma música era cantada em
um templo ao lado. Subimos as escadas e as vozes foram sumindo, uma a
uma, enquanto as pessoas saiam. Em um breve momento, só uma voz
entoava um mantra. Louise foi a primeira a entrar, depois, eu.
Batemos o sino três vezes e saudamos Ramesh. É ele que todas as
manhã e noites abre e cuida do templo de Shiva. É ele que canta e
faz as pessoas cantarem. Entre a manhã e a noite, trabalha em um
banco, de terno e gravata. Ali, na nossa frente, vestia suas roupas
religiosas, com sua testa pintada de amarelo e vermelho, o terceiro
olho, entre as sobrancelhas.
Contou
sobre seuas afazeres no templo, sua relação com as pessoas que lá
vão todos os dias, seu trabalho, seus alunos de canto de mantras.
“Uma aluna francesa gravou um disco com mantras e está me
trazendo.” Com a fala pausada e extremamente calma, explicou os
rituais, as cores das tintas, as músicas para cada dia, os tons das
canções e como se deve ler em hindi e sânscrito, na hora de
cantar. Lembrou de como seu pai o ensinou música.
“Ele me batia
nas mãos e até na cara, quando eu errava. Ficava com as marcas dos
dedos dele na minha bochecha. Daí vinha minha mãe e me abraçava e
assim eu recomeçava”, disse, com um sorriso tímido. “São
educações diferentes, não é? Mas eu aprendi.”
Também
conversamos com um senhor, que ao saber de cada nacionalidade ali
sentada na frente de Ramesh, elaborou perguntas específicas a nós.
Ramesh
gosta de futebol. Mais do que críquete. “É mais intenso,
completo. São 90 minutos, mas de espetáculo.” Falou de Ronaldo,
Ronaldinho, Kaká e Pelé. Nos
ensinou a entrar e sair de templos hindus e nos despedimos.
Retornamos
rápido, mas nos perdemos e chegamos quase 22h no hotel. Hassam
estava lá e nos juntamos no terraço. Ao chegarmos, um grupo de
policiais tomava umas cervejas e batia papo nas almofadas. Mister
Papoo fez questão de nos sentarmos juntos. Porém, logo a comida
chegou e a tropa rumou para a mesa. “Policia é igual em qualquer
lugar do mundo”, soltou Hassam, enquanto Papoo já começava seu
discurso.
Um comentário:
Morenooooooo...você consegue conversar com pessoas "não turísticas" da India? (por causa da língua, etc...). Qual sua impressão das castas? O que tem visto disso?
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