Decidi
participar do acampamento de forma mais concreta, nos meus quatro
dias de reserva. Entrar no clima, na medida do possível e não ficar
apenas como observador. Observar e experimentar possibilidades de
conexões físicas e espirituais, que ao meu ver, são completamente
diferentes de religião.
A
organização no camp é baseada na solidariedade e compartilhamento.
Todos podem participar da gestão do local: limpeza, organização,
música, massagens, yoga e outras atividades. Minha tentativa no
voluntariado foi ajudar na construção de um dos jardins, mas uma
gripe me arrebatou antes de finalizar no trabalho.
Participei
de três dos quatro satsangs que Prem Baba fez durante os dias que
estive lá. Satsangs são como encontros entre o mestre e seus
seguidores, em que Prem Baba fala sobre determinados temas. Há
momentos para meditação, reflexões, silêncios e músicas.
Os
bhajans, que são mantras, músicas de devoção divinas, que chegam
a ter mais de 3 mil anos, transmitidos oralmente, tanto em Hindi,
como em Sânscrito. O mantra mais novo cantado nos dias que estive
ali possui 60 anos. Ritmos tradicionais são mantidos, mas
interpretações são livres.
No
primeiro dia, a banda tocou Hare Krishna em ritmo de Asa Branca e pôs
muita gente para dançar e meditar e ao mesmo tempo. Esse é o
principal objetivo dos mantras. Todos sorriam. Me veio a memória há
quantos anos escuto essa canção, lembro dos Hare krishnas cantando
pelas ruas perto do Masp, quando ia com minha mãe ao cinema de
Patriarca e descia na consolação para andar até a avenida
Paulista.
Prem
Baba não usa somente os milenares mantras do hinduismo. Canções
sobre as divindades da natureza, a tradição da religiosidade da
floresta brasileira também está ali. Tudo muito bonito. As vozes
das cantoras e dos músicos do “Pai do Amor”são delicadas e é
fácil fechar os olhos para deixar a mente fluir, no que chamam de
oceano interior.
Sozinho
e nunca sozinho, conheci muita gente no acampamento. Pessoas de todos
os lugares morando em outros tantos pedaços do globo. Exemplo, uma
das organizadoras do acampamento, que é irlandesa e mora em Manali,
no Himalaia. Lugar que queria conhecer, mas os -14 graus me fizeram
retroceder. Ou a francesa que mora em Bali e a jornalista das Ilhas
Maurício que abandonou as reportagens após conhecer a meditação,
mais de 20 anos atrás e que está na India pela 11a vez. E voltei a
falar português e até sobre questões os rumos do jornalismo no
Brasil.
Assim
como a maioria, acordava antes da 7h da manhã. Na tenda, alguns já
praticavam meditação enquanto eu espreguiçava. O silêncio impera
nos primeiros momentos da manhã. As tendas vão se abrindo, os
corredores de tapete verde tomados pelas pessoas que vão aos
banheiros. O café da manhã só após a ioga e os alongamentos.
Na
hora do café, avisos para manter-se em silêncio, nunca respeitados.
À mesa, o impulso pela conversa era maior que qualquer orientação.
Alguns comem nas mesas, outros no chão.
Quatro
dias foram poucos para compreender o Khumb Mela, mas interessantes
pela chance de observação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário