Uma
hora depois das dentadas nos biscoitos psicodélicos de Jaisalmer jogava a mochila
nas costas para deixar o hotel em Agra. Segui o motorista do Rickshaw
com os olhos pequenos e os ouvidos atentos à música que emanava de
um casamento, num prédio ao lado. Algumas árvores, grandes,
árvores, ficam no das avenidas principais. Os carros que desviem.
No
terminal Cantonment Agra de trem, luzes
vermelhas dos letreiros em meio à fumaça e gente e malas e panos e
olhares. Parei logo no começo da plataforma 4, perto de dois
coreanos. Gravei uma imagem de um trem de carga, que demorou mais de
três minutos para que todos os vagões sumissem da minha frente. Um
casal brigava na plataforma três. Ela batia nele. Aos poucos a raiva
parece que se foi e eles sentaram-se lado a lado em um banco. Ratos
vasculhavam os trilhos. Ratos grandes.
Enquanto
isso pensava na batalha caótica entre a cultura e as tradições
milenares indianas diante da sociedade de consumo. Será isso o
motivo da organização de alguns setores das cidades, da sujeira?
Não era assim antes? Como era antes? E por quanto tempo o olhar
pouco agressivo (minha opinião) dos indianos diante dos turistas
ainda permanecerá?
Ou
será que não é batalha? São só dificuldades para adaptação de
um relacionamento suicida (pelo menos ao meio ambiente). Estava indo
e indo com pensamento acelerado e feições tranquilas, quase de olho
fechado.
Nessas,
o trem chegou e andei calmo até o outro lado da plataforma. Vagão
S1, acento 54 da classe sleeper, a mesma da viagem Mumbai-Goa. Lancei
as malas pra cima e subi.
Acordei
5h da matina, horário previsto para a chegada em Allahabad. Mas
estávamos lá. Poderia ter dormido mais uma hora e meia se não
fosse o dono babaca do despertador, tocando de 5 em 5 minutos.
Paguei
uma bica no taxi. Estava frio e vi uma menina com o nariz sujo e
sorrindo com as mãos próximas à fogueira, ao subirmos uma ponte.
Na entrada da área fechada ao Khumb Mela, um grande comércio de
flores laranjas é aquecido ainda aos primeiros raios da manhã. São
as flores de oferendas.
O
motorista me deixou numa rua de terra com neblina, dizendo que era o
portão 14. Quilômetros e mais quilômetros de tendas às margens
dos rios Yamuna e Ganges (a Ganga). O Khumb Mela de 2013, o Maha
Khumb Mela, acontece na junção dos rios. Encontrei o camp e
sentado e enrolado no cobertor, assisti uma aula de yoga e tomei café
da manhã enquanto o Welcome Center não abria.
Estava
no Camp Together 2013, feito por Prem Baba. Ele é um líder
espiritual nascido no Brasil, que tem seguidores em diversas partes
do mundo. Da linhagem Sachcha, Prem Baba atua na união espiritual
entre oriente e ocidente. Ele divide seu tempo entre o Brasil e a
India, nos Ashram's no interior de São Paulo e em Rishkesh. É
chamado de Guru do Amor. Ele é também considerado um líder
humanitário e abrange seu trabalho em ações socio-ambientais,
principalmente.
O
Khumb Mela tem uma organização impressionante. Cerca de 70 milhões
de pessoas devem passar pelo festival, que começou em 14 de janeiro e vai até meados de março. SWU, Woodstock? Glastonbury Esqueça. É outra dimensão. Allahabad
é tomada por tendas e barracas e lonas, em grandes e pequenos,
organizados, simples, estruturados, acanhados e desorganizados
acampamentos. Além da área principal, à beira dos rios, muitas
outras partes da cidade são preenchidos por gente que vem de toda a
India e outras partes do mundo, dentro e fora de áreas demarcadas.
É uma cidade que se acomoda mais de dois meses dentro de outra. E
como uma cidade, existe água, energia, banheiros para muitos, não
todos. Para o lixo e esgoto, buracos são abertos às margens dos
rios, que meses adiante, cobrirão todo aquele espaço. Este Khumb, o
Maha, ocorre de 12 em 12 anos.
Fiz
o check in e fui para minha tenda, número 20. Dois argentinos, um
chegou depois, um inglês e outro brasileiro (um saiu, outro chegou).
Depois
de tantos e-mails precavidos sobre a situação no acampamento,
estava em um hotel. O camp tem tudo, até água quente, quando
necessário. Comida boa e farta (spice ou no spice), três vezes ao
dia, cama, cobertores e a aula de Yoga, que não fiz.
Após
um banho, fui à pé até o camp 13, onde seria realizado o Satsang
com Prem Baba. Dois quilômetros de caminhada para perceber que
estávamos na márgem tranquila do Khumb Mela. O núcleo estava ali,
ao lado e eu ouvia seus poderes. Pontes baixas construídas sobre
grandes boias metálicas ligavam todos as margens do evento. Mas o
transporte por barcos é rico. Centenas, para não dizer milhares de
barqueiros ofertam seus serviços.
Em
todo o terreno destinado ao Khumb Mela à beira dos rios, postes de
energia e alto falantes, estes, ligados quase 24h, transmitindo toda
a série de rituais, discursos, satsangs, músicas, mantras...
3 comentários:
Uau!!!
Uau!!!
e tem paz? ou nem é para ter?
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