O
trem parou em Puri às quatro e tanto da madrugada do dia 16. Na
plataforma, um senhor me ofereceu os serviços de rickshaw e 5
minutos depois percebi que era uma bike rickshaw, que ainda não
tinha usado na viagem, por achar meio cruel. E é. Com minhas
mochilas, devo pesar mais de 115kg, certamente, apesar de já ter
deixado muitos quilos pelo caminho.
O senhor do rickshaw não devia
pesar 60. Além disso, existem obstáculos no meio do caminho. Num
percurso que faria a pé, com mochilas, em 20min, levamos uma meia
hora e tive que pular para fora do veículo em alguns momentos para
ajudá-lo a empurrar a bicicleta com minhas malas.
Tinha
pesquisado dois lugares para tentar ficar. Mas de madrugada aceitei a
sugestão do tio e cheguei ao Durga Lodge, um predinho verde meio
fedido. Preço acertado, derrubei as malas no quarto e dormi algumas
horas.
O
cômodo é no térreo e grande, paredes amarelas de roda pé de
azulejo. O banheiro tem luz vermelha e assento indiano. A pia é do
lado de fora. Mas a torneira do lado de dentro pinga o tempo todo.
Ainda há uma porta e uma janela para um corredor atrás. Janela que
enquanto estava escrevendo, pulou um macaco e pegou a sacola de casca
de banana que separei pras vacas. Olhou pra mim e subiu no telhado do
vizinho. Macaco folgado.
O
cheiro não invadia o quarto, mas batia na porta. E de manhã estava
mais forte. O lodge fica em frente a um terreno com um esqueleto de
um prédio. E terreno vazio na India vira lixão e banheiro. O sol
levanta o odor.
A
praia é bem bonita de longe e vai enfeiando na aproximação. A
sujeira é a responsável. Na beirada da areia, uma vila de
pescadores. Na areia, o depósito de lixo, assim, num canto grande.
Mas o mar é bonito, forte, enérgico, mesmo quando está sem ondas.
Menos de 100m, na água, os barcos de madeira, com as hélices
apoiadas por uma longa haste de metal.
Quando
estão na areia, os barcos ajudam a formar um quadro. Todos
perfilados, à frente, a espuma e a mareia, atrás, os casebres de
bambu e bandeiras hasteadas. De perto, cada barco estacionado serve
como “casinha”. A vila usa a areia como banheiro. Crianças, de
cócoras, lado a lado, conversam, enquanto os amigos jogam críquete.
Adultos, homens e mulheres, lado a lado.
Quando
os barcos chegam do trabalho, grupos se aglomeram ao redor. Mulheres,
com suas bacias prateadas e um pano enrolado na cabeça, ficam
agachadas e aguardam sua vez para pegar a mercadoria. Aos poucos,
enchem as bacias com alguns peixes grandes e as colocam na cabeça.
Nas ruas, vi mais mulheres do que homens, na venda do pescado.
Crianças pedem canetas, chocolates ou dinheiro e jovens oferecem-se
como guias.
E
os pescadores oferecem...fumo.
“Ótima
qualidade. Você fuma e Shiva vem até você”, um disse. Alguns
passos adiante, “É muito bom, da região de Kerala. Eu fumo quando
estou com frio, antes de ir pra o mar. Passa na hora”, outro falou.
Nas
areias de Puri, as oferendas (pujas) também ajudam a estragar o
ambiente. Um córrego de água escura e fétida deságua completa o
cenário. As consequências estão alguns metros adiante. Encontrei
quatro tartarugas mortas. Uma delas era alimento de cachorros e
corvos.
Na
área de maior movimento da praia de Puri, um mercado na areia.
Muitas lonas cheias de brinquedos coloridos enfeitiçando as
crianças. As inúmeras barracas de comida e bijuterias. Camelos e
cavalos trabalham duro na areia, carregando mães e suas crianças
chorosas, enquanto o pai corre para fotografar. Famílias banham-se
de roupa e fazem poses para fotos. Atrás da praia, hotéis,
restaurantes e lojas estão amontoadas.
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