O
Khumb Mela é o maior festival religioso do mundo. Minha descoberta
faltando apenas um mês para chegar à India. O mundo ocidental
cristão não abre a janela para a gente ver isso. A Globo, por
exemplo, vai para o Khumb Mela só agora, usando Prem Baba como
gancho.
Ele
ocorre nas cidades de Allahabad, Haridwar, Nasik e Ujjain. A cada 12
temporadas, ele toma Allahabad, cidade localizada no estado de Uttar
Pradesh (centro do país) na junção dos rios Yamuna e Ganga, para o
Maha (maior) Khumb Mela. Essa é um dos motivos que faz o local ser
considerado especial, sagrado para os indianos e suas múltiplas
seitas.
A
lenda diz que em , após uma batalha entre Deuses e Dêmonios, o
amrit, o néctar da imortalidade, teria caído neste local. Desde
então, o Khumb Mela ocorre. Suas datas principais são os banhos
sagrados nas águas dos dois rios. É a procura por um pouco da graça
deste néctar que atrai cada vez mais pessoas, trazidas por seus
líderes espirituais.
Além
dos gurus, Babas, mestres e seus seguidores, o Khumb recebe os
sadhus, os homens santos da religião indu, que chegam de todas as
formas de todo o país.
Mas
não é só a religião predominante que está no evento. Camps de
outras crenças também marcam presença. Dalai Lama, representante
máximo do budismo está lá, os muçulmanos estão também.
O
Khumb Mela também serve de encontro entre a política espiritual e
religiosa com a tradicional. Em alguns dos eventos socioambientais
realizados no camp 13, também de Prem Baba, em divisão com Swami
Chidanada Ji, o governador de Uttar Pradesh, chamado de “
Governador Verde” esteve presente.
Com
a decisão de adentrar ao ambiente proposto no camp de Prem Baba,
além da gripe que me derrubou por um dia, tive apenas uma
oportunidade de caminhar pelo lado mais efervescente do Khumb. Tive a
oportunidade de ver o momento em que centenas de Sadhus são
alimentados, no fim da tarde, à beira da Ganga. Percebi o quanto
transforma a própria distribuição da população de Allahabad.
Muitos habitantes da cidade saem de suas casas e se mudam para o
festival. Foi mais um momento em que percebi (não quer dizer que
entendi) a complexidade da sociedade indiana e seus mais de 1 bilhão
de personagens.
Vi
pouquissimos estrangeiros e observei que muitos locais preferem
assim. Pude fazer algumas tentativas de retratos, já que tanta gente
pede fotografias. Fui alertado sobre os trombadinhas. E por esse
alerta, me pediram um trocado.
Também
acompanhei, na caravana de Prem Baba, eventos religiosos, ambientais,
sociais e políticos. Participei de um encontro no Sachcha Ashram,
perto de nosso acampamento. Lá estava Prem Baba e outros gurus, como
Swami Chidananda Ji. Ashram é um local onde se busca, através de
um líder religioso, o retiro para evolução espiritual, em um
resumo bem resumido.
As
margens do Yamuna, próximo à Ganga, acompanhei um acordo entre
líderes espirituais e humanitários para a despoluição do sagrado
rio. Dalai Lama disse que ia. Mas furou. Um representante esteve em
seu lugar e deve ter frustrado a imprensa, que encheu barco com as
cores da India.
Eu
queria ter visto o Dalai Lama. De campanhas para despoluição já
estou calejado. As intenções podem ser boas. Talvez a ação feita
por líderes religiosos seja uma cartada para chamar melhor a atenção
da população, claramente pouco preocupada com questões sanitárias,
mas ainda fortemente influenciada pelas crenças.
O
problema, de certo ponto de vista, torna-se outro. Que postura terá
a própria religião, nada acostumada a fazer críticas a seus fiéis,
para colocar esse dedo na ferida? Se religião é conforto, quem terá
coragem para pisar nos ovos? Como?
E
como fazer um programa de despoluição de um rio sem tratar da
questão do consumo, do crescimento das cidades, da densidade
populacional. Que religião já falou sobre controle populacional?
Quem quer perder rebanho?
Nenhum comentário:
Postar um comentário