A placa diz que foi em Bodhgaya, no século 6 AC, que
Sidarta Gautama tornou-se Buda. A cidade é considerada o principal
ponto de peregrinação budista do mundo.
É
assim que a pequena cidade vive hoje, do turismo religioso.
Monasterios budistas de vários países estão sediados na região,
ao sul do estado de Bihar. O principal e maior templo em sua
homenagem, o Mahabodhi, construído no século 6 e passou por uma
série de reformas ao longo da história. Até os ingleses meteram a
mão ali.
Contornando
o Mahabodhi, um caminho de mármore branco, onde as pessoas dão
voltas enquanto oram. O chão é mantido limpo. Enquanto estive lá,
as pessoas não deixavam nem uma folha seca no piso. Pegavam, como se
fosse um presente. Acho que talvez seja.
Ao
redor do templo, um grande jardim, repleto de pequenos templos e
grandes árvores. Nos espaços entre eles, mesas de madeira próximas
ao solo, apoiadas por alguns tijolos. Nelas, budistas praticavam um
tipo de oração misturada com exercício. Uma espécie de flexão de
braços. Todas as mesas, quando deixam de ser usadas, são cobertas
por uma lona, com cuidado. E cachorros, muitos. Um deles, filhote, se
aninhou em minhas pernas enquanto observava, sentado, o Mahabodhi. Em
alguns pontos do jardim, placas indicam locais onde Buda realizou
períodos de meditação.
Por
dentro, a construção é simples. Um altar com um escultura de Buda,
com os cabelos azuis, os olhos brilhantes e semi cerrados e uma roupa
laranja, também brilhosa. Alguns sentados no chão, rezando. A
maioria passa rápido, com uma pequena prece, alguns sinais e
oferendas exibidas, mas colocadas do lado de fora.
Embaixo
de uma árvore, atrás do templo, diante do local onde teria ocorrido
a iluminação, um velho monge conversa, microfone na mão, com um
grupo. Todos sentados no chão. O papo parece ser bom, pois risadas
não faltam.
Pelas
ruas, monges e budistas e parentes de monges, em visita, se misturam
à população, a maioria com feições indianas e nepalesas (tibetanas...).
Mas o turismo interno é ainda maior. Ônibus não param
de chegar e buscar vagas nos cantos e terrenos enlameados da cidade.
O comércio é aquecido. Dezenas de barracas estão enfileiradas pela
rua principal: artigos religisos, estátuas, esculturas, roupas,
bolsas, cobertores, panos, almofadas para meditação, objetos para a
casa, pequenos eltrodomésticos, comida, brinquedos, bijuterias,
facas e até uma banca de mágicas.
No
murado parque Jay Prakash, um jardim que possui mais cara de India e
menos Inglaterra. Algumas roseiras estão ali, cercadas, mas a maior
parte do terreno é composta por grandes e médias árvores, com
bancos onde casais estão menos tímidos e mais protegidos do
público e das regras. Cachorros se espreguiçam ao sol e esquilos
ameaçam chegar perto e depois somem em alta velocidade.
No
monasterio tibetano, moleques desatentos tinham aula com um monge. Em
se incomodar, ele continuava as orações, com o auxilio de um dos
meninos, que batia no tambor, vez ou outra. Eu atrapalhava mais um
pouco, com os clicks da máquina. Muitas cores e desenhos sobre a
história de Buda, antes e depois da iluminação. Uma estátua
dourada e adornos de flor nos pilares e nas paredes. Quando sai, dois
meninos andavam de bicicleta, enquanto um cachorro com a cara pintada
me pedia carinho e o seu amigo, filhotão, mordia minha canela.
Em
um outro templo, um grupo ganhava o almoço. Adultos, idosos e
crianças sentadas no chão. Eles comem em uma espécie de folha de
árvore grande e um pouco seca. A comida é farta. Qualquer um pode
chegar e comer.
Uma bagunça se forma na minha frente quando começo
a fotografar umas crianças. Todas aparecem e querem aparecer ainda
mais. Pulam na frente da máquina e comemoram quando se veem na tela.
Também fotografo um senhor, que anota seu endereço para que eu
mande as fotos. Pede meu e-mail para quando puder sentar na frente do
computador, me escrever. Jovens se aproximam para tentar levar uma
grana como guias. Ele os afasta e conversamos até que a fome bate e
encosto num restaurante no subsolo de um prédio. Dal de espinafre,
omelete e arroz. Um suco engarrafado de manga pela Coca Cola, Maaza.
3 comentários:
Nada de mulheres nisto tudo, né?
Incomoda ver o budismo assim exposto e comercializado (penso nos indígenas brasileiros...)? Ou é o sentimento do "faz parte" que impera?
Em um lugar que morei, a comida dos monges (e aprendizes) era levada por simpatizantes ou budistas aos templos. Deve ser assim na Índia também, não?
Sim, pelo que vi e ouvi, eles vivem de doações. Mas eu suspeito que deve existir alguma grana de governos, já que existem monastérios de vários países por lá. Mas existem instituições que trabalham para conseguir grana para esses templos e monasterios.
A vida destes monges deve ser simplérrima. Eles moram nos monastérios, certo? Plantam? Têm os tais confortos modernos? E a pergunta da paola é boa: eles convivem bem com a exposição? Não os incomoda?
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