sábado, 29 de janeiro de 2011

Romance rápido (ou quase)

O metrô apontou na estação às 17h34, ele viu no celular. Um minuto antes, ela também apareceu ali e caminhou até perto dele. A estação quase vazia. Ela olhou para ele de frente, ele fez de lado, meio sem saber como. Entraram pela mesma porta. Primeiro, deixaram duas pessoas sair. Eram os únicos no vagão.
Sentou no banco ao lado da porta. Ela sentou em outro, à direita, em sua diagonal. Entreolharam-se pela primeira vez. Rápido. Ela pegou o celular e ele olhou pela janela, o reflexo do próprio rosto.
Nos primeiros metros de viagem, imaginou o que falaria e como. Tentaria ser o mais espontâneo possível. Só assim poderia acontecer. Mas era óbvio. Não é possível que ela não estava pensando a mesma coisa. Os dois ali, sozinhos num vagão no metrô mais movimentado do país. Uma chance em milhões. Seria simples: - Oi. Vamos aproveitar esses minúsculos minutos para uma paixão, uma mini paixão? Nos beijamos e quando o trem chegar na outra estação, eu volto para o meu lugar, as pessoas entram e nós nunca mais nos veremos. O que acha? - Era esse o texto.
Olharam-se novamente, ela com um sorriso pequeno. Ele com a cara de curioso. -Levanta e vai - pensou quase falando. Não foi.
O trem chegou. As portas abriram e ninguém entrou. Já eram flertes. Ela puxou uma revista, que, em poucos segundos, voltou para dentro da bolsa. Cruzou as pernas. Estava de saia jeans, blusa vermelha, fivelas (duas) na cabeça, segurando a franja para trás. Tinha olhos grandes, panturrilhas grossas e cabelos lisos, na altura dos ombros.
Ficava com a cabeça meio baixa. Os olhos movimentavam-se entre ela, o chão e o seu reflexo no vidro. Fitaram-se mais uma vez. Ela já estava mirando quando ele cruzou seu olhar. -Seria agora. Ou nunca. - raciocinou novamente. Levantou a cabeça e olhou-a fixamente. Dessa vez ela desviou. Voltou ao reflexo no vidro. O trem começou a frear.
Levantou-se e caminhou até a porta. Ela seguiria. Olhou-a e abriu um sorriso curto. Ela retribuiu. Abaixou a cabeça e desceu. Ao passar pela janela, olhou pra ela novamente, de lado, meio sem saber como. Sorriram.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adoro seus contos. As vezes acho que te conheço melhor quando leio seus textos do que quando conversamos... rs. Será?