sábado, 21 de maio de 2011

Marcha em São Paulo

Um, dois, três, quatro, cinco, urra! Imagine duas dezenas de policiais bradando o cântico e marcando ritmo batendo com seus cacetetes nos seus escudos. A patética cena policialesca ocorreu ontem à tarde na Avenida Paulista, quando policiais da tropa de choque atacou os participantes da Marcha da Maconha.

Mais uma vez houve uma tentativa em realizar a passeata que visa abrir o debate sobre a legalização, regulamentação da produção e consumo da erva. Mais uma vez, os homens da Justiça proibiram o movimento em uma canetada, às vésperas (dia 20). O responsável dessa vez foi o desembargador Teodomiro Mendez (como deve ser a cara desse senhor?), que usou o velho e reacionário discurso de que a Marcha é uma simples apologia ao uso de drogas.

O jeito foi transformar a Marcha da Maconha em manifestação pela Liberdade de expressão. E ela foi acordada entre a organização do evento e a PM. O Capitão Del Vecchio, foi esse o policial que fez um acordo com os responsáveis pela passeata. No dia 20, ele permitiu a manifestação. Mas Del Vecchio mudou de ideia. E mudou quando milhares de pessoas já estavam no vão livre do Masp. Já dizia Sabotage que "Gambé faz a acerto e depois mata na crocodilagem".

Dessa vez não houve morte. A polícia é truculenta, tosca, burra, mas não é louca de matar filhos da classe média paulistana - pelo menos não em massa -. Louco é o movimento que estava lá, incentivando os "homens da lei"a fazerem seu trabalho de manter a ordem e a paz - era isso que um gambézinho discursava, em meio a fumaça de gás de pimenta e reclamações de pedestres, que nada tinham a ver com a manifestação. Falava de paz com a mão no coldre.

O movimento que estava ali, indiscreta e calorosamente incentivando os atos bizarros da polícia é o Ultra Defesa - organização que defende as ações do Fascitóide Jair Bolsonaro, a caricatura de deputado que faz apologia à pena de morte, à tortura, ao ataque a homossexuais e mais uma série de bárbaries.

A instigação funcionou. Logo após a manifestação iniciar sua caminhada, a polícia usou suas armas da paz: bombas de gás de pimenta e tiros de bala de borracha. A tática rapidamente dispersou parte dos manifestantes. Pais com seus filhos pequenos tiveram que deixar a marcha. Sim, a tropa de choque jogou bombas em locais onde crianças passavam. Idosos também sofreram com o efeito moral da polícia: olhos vermelhos e gargantas irritadas.

Mas também não foi tão fácil assim restabelecer a ordem. Até às 17h20 (uma hora depois...) ainda haviam jovens sendo perseguidos por coxinhas motociclistas, que interrompiam o trânsito e ameaçavam prender meninas que gritavam contra a selvageria do corporação. Algemado mesmo foi o homem que vendia pulseiras de couro. Que apanhou e teve seus pertences roubados e destruídos por policiais - eu até diria os nomes e as patentes deles, mas já é praxe tirar a identificação do uniforme nesses momentos. Isso ocorreu na Consolação, um quarteirão depois da Praça Roosevelt.

Kassab e Alckmin devem estar satisfeitos. O comando da policia militar também. Os próprios gambés devem estar dando risada até agora. Dia tranquilo, né. Atirar contra desarmados, oprimir quem não tem sangue nos olhos para revidar é mais seguro.

Aproveitaram para desopilar o fígado com abusos, gritos e ameaças. Debater e falar alto com o capitão sobre o salário baixo e as condições de trabalho não dá. Falta coragem.

Tranquilos devem estar os empresários do transporte público. Aqueles que nunca aparecem (alguém ai sabe o nome ou tem uma foto de um dono de empresa de transporte coletivo?). Receberam bem o aumento para R$ 3 da passagem, mas "esqueceram" de repassar os lucros aos motoristas e cobradores. Um início de greve foi ameaçado essa semana. Se isso ocorrer, milhões de pessoas serão afetadas diariamente. Não poderão ir, nem vir.

Mas isso não importa. O que atrapalha mesmo a cidade são os maconheiros da Paulista.