terça-feira, 27 de maio de 2008

Sonho bobo

por Vilauba Herrera

Quando bato a última tecla, meu corpo dói
A boca seca e escuto a bronca, calado
Ah, como eu queria ser um super-herói
Daquele que não marca toca, arrojado

Queria transformar batuque em poesia
Não essa coisa assim, meio chinfrim
Esse texto cheio de erros e heresia
Sem rima, sem rumo, com resto e com fim

Ana, Bebel, Bárbara, Isabela e Carolina
Todas elas em uma oração ao tempo
Todas belas em minha solidão ao vento

Gilberto, Chico, Tom, João, Caetano, Nara e Zés
Mas não sou anjo e esqueceram das minhas asas
E me contento e tento andar só com pés

domingo, 25 de maio de 2008

Fuga

por Vilauba Herrera

Levantou num salto. Já estava acordado e vestido. Só enrolava na cama, com os braços para atrás, mãos na nuca, reparando de olho fechado a respiração falha. Nariz entupido.
Pegou o fio dental verde. Tirou o pedaço necessário, encostou o ombro na porta de ferro da sacada. Do oitavo andar ele via o dia feio e cinza e triste. Jogou o fio dental verde e vermelho no lixo. Espreguiçou, gemendo.

Olhou no relógio, enquanto ligava o som. Música francesa. Sentou no sofá azul gasto. O teto era sujo, as paredes com quadros amarelados. Levantou, pegou a carteira em cima da mesa, os óculos e caminhou até a porta. Hesitou. Maia volta e entrou na cozinha. Abriu a geladeira. Com a porta escancarada, abriu uma gaveta do armário, tirou uma faca e pegou um pequeno pedaço de queijo branco. Lavou, secou e guardou a faca. Abriu o freezer, tirou um cubo de gelo da forma, jogou na boca e fechou a geladeira. Tentou cantarolar a música com o gelo na boca, babou na camiseta, ficou irritado, engoliu o cubo, engasgou, tossiu e sentiu dor nas costas.

No banheiro, olhou-se no espelho. Passou a mão nos cabelos, abriu a boca, viu a mancha de água na roupa.
Saiu em disparada, passadas rápidas, abriu a porta e antes de fecha-la, escutou mais um pouco da simpática canção, que não entendia."On me dit que nos vies ne valent pas grand-chose..."

Fechou a porta, desceu a escadaria vermelha. Esperou o porteiro ir até a garagem e passou pelo portão. A tarde acabava. Atravessou a rua, andou vacilante até a esquina. Ainda viu o primeiro carro de polícia parar em frente ao prédio.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Um dos últimos marcianos

por Vilauba Herrera

Morreu o senador Jefferson Péres (PDT - AM). Fica aqui um lúcido comentário sobre a "polêmica" discussão sobre a legalização das drogas. Não é culpa minha, mas também vão aparecer algumas almas penadas, pesadas....

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Marcha ré (2ª)

por Vilauba Herrera


Alguém me responda. Por que Marcha da Maconha não pode e Marcha para Jesus pode?

Por que Jesus, seus empresários e fãs podem parar o trânsito de São Paulo?

Por que o Apóstolo condenado por crimes de conspiração {a bispa está encarcerada) e contrabando pôde aparecer em um telão e tagarelar para o povaréu, incluindo o prefeito da cidade e a candidata ao cargo pelo PT?

Por que em 2009, o prefeito do DEM(os) já avisou que vai liberar o autódromo de Interlagos para o evento?

Se o problema é o nome, podemos, no ano que vem mudar o nome da marcha. Que tal Marcha pela brisa divina, ou então, Marcha para abrir a mente. Talvez o melhor seja jogar com a arma do inimigo. Marcha para Jesus... and Mary Chain. Assim, acho que rola.



---Jesus and Mary Chain---

domingo, 18 de maio de 2008

Domingo eu quero ver....

por Vilauba Herrera



Hoje, o Domingão do Faustão, autor de pérolas como o Latininho, Sushi erótico e uma série de quadros de alta qualidade e divertimento, como video-cacetadas (antiquíssimas), dança dos famosos e arquivos confidenciais, completou 1000 programas.

São quase 20 anos de "Oh loucos", "Mais do que nuncas" e "Quem sabe faz ao vivo", que apresentam a decadência, preguiça, sadismo e picaretagem da TV Brasileira. E o pior é que o programa, apesar de algumas instabilidades, causadas pelos competitivos Gugu e Raul Gil, mantém uma audiência enorme.


Nessas horas, percebo que a televisçao vicia. tenho certeza que assistir Domingão do Faustão é o álcool, a cocaína de milhões de aposentados, trabalhadores e trabalhadoras, que poucas horas depois, estarão em seus empregos, em mais uma segunda-feira dura, repleta de ônibus lotados, trens suados, patrões irritados e salários perfurados.

Mais vergonhoso é o presidente da República, em mais um momento de populismo barato e desnecessário, colocar sua cara na tela para felicitar a marca obtida pelo rechonchudo e sem graça apresentador.

Desgraças televisivas não são produzidas apenas no Brasil. Programas como o do Faustão são projetos norte-americanos, fato. Mas neste domingo, não há nada mais negativamente emblemático neste país, do que a festa pelos 20 anos do "Domingão".





quarta-feira, 14 de maio de 2008

Confabulações midiáticas sobre o caso Isabella (Janela)

por Vilauba Herrera

- Com o aumento de 40% de televisores ligados para acompanhar a cobertura do caso, as emissoras de TV tentam usar até os ossos do evento para garantir mais telespectadores e anunciantes indignados. A Record na briga pela "exclusividade" com a Globo, chegou a fazer uma matéria sobre sua própria cobertura do caso. Os jornalistas se entrevistavam, explicando onde estavam quando o promotor chegou ao fórum, como conseguiram fazer uma pergunta ao Nardoni-pai em meio ao tumulto de policiais, jornalistas, fotógrafos e desocupados que se acotovelavam na frente das delegacias e o escambau.

- Enquanto a Record (Universal do Reino de Deus) fez uma auto-matéria, a Globo (Católica apostólica Romana) se deu melhor, já que os acusados, Nardoni-filho, Jatobá-madrasta e Anna Carolina-mãe, deram entrevistas exclusivas para Walmir Salaro e Patricia Poeta. Além disso, Anna Carolina-mãe virou devota de padre-cantor-ator e estudante de jornalismo, Marcelo Rossi.
- Como jornalista, admiro as investigações feitas por repórteres, suas fontes, malandragens e tudo mais. O que não entendo e o caso Isabella (Janela) é a divulgação sem controle de informações de um caso que ainda não foi concluído. Acho importante a descoberta e divulgação dos fatos para o público, essa é a função da profissão. Mas acho perigoso o modo descontrolado como a imprensa derrama informações pouco precisas, suposições, especulações. O promotor, advogados, delegados, irmã do Nardoni-filho, de apenas 20 anos, estudante de direito, dando uma série de entrevistas, como se estivessem com o resultado das investigações na mão.

- E os discretos helicópteros colocados em cima do enterro de Isabella, como se fosse um show de rock. Ou será que isso era só um capítulo fúnebre de um novo Big Brother.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Para acalmar a alma

por Vilauba Herrera

Enfurecido após um papo agradável com uma atendente de telemarketing da (escrota) Viação Cometa, terminei parte do trabalho. Sem saber como eliminar toda a raiva pelos gerúndios e malandragens e burocracias daquele telefonema, tentei escrever um "Manifesto contra o telemarketing". Fui incapaz.

O sangue nos olhos me deixou cego. Preocupado, lembrei de um remédio dos tempos do onça. Rock and Roll, Baby!!

E logo me veio a cabeça uma das apresentações mais fantásticas que assisti. AC/DC. 12 de outubro de 1996, estádio do Pacaembu, Ballbreaker tour.

Aos 15 anos, eu era puro rock. Apesar de ainda não estar enchendo a cara todos os dias, como fizeram meus ídolos. Eu nem bebia, acho. Outras drogas, então, não sabia nem a cor. lembro que compramos os ingressos com antecedência, eu, José [irmão de vida} e um amigo do passado, Felipe Morelli (onde anda você, rapá?).

Um tio, primo, parente, sei lá, do Morelli, foi junto. Era mais velho, gostava do AC/DC e seria o responsável pelo trio. Recordo-me que achei estranho, mas não falei nada. Porra, eu já frequentava shows há alguns anos, no mesmo Pacaembu, anos antes, já tinha visto Rolling Stones (com minha mãe), Iron Maiden (com amigos), não precisava de babá. Quem é do rock não precisa de babá.

Bom, 12 anos e muito rock and roll depois, admito que não lembro exatamente de tudo. Mas não esqueço da abertura, com a parede sendo quebrada pela Ballbreaker. Inesquecível também foi escutar os sinos de Hells Bells, os solos de Angus Young e a voz esganiçada de Brian Jonhson ( Bon Scott era foda, mas me desculpem os puristas, prefiro Johnson). Os canhões de For Those About to Rock, claro, não poderia esquecer. E também me recordo de quando salvei a vida de José, que quase caiu no chão, durante uma onda de milhares de pessoas. Rock and Roll demais!!!

Depois da sessão AC/DC, a calma retornou ao meu espírito. Eu só queria uma xícara de chá... e jogar aquela atendente, fã de "Jeitos Muleques", "Inimigos da Hp‘s", no meio da multidão, enlouquecida por Thunderstruck.

sábado, 3 de maio de 2008

Marcha ré




por Vilauba Herrera



Conseguiram. Os cardeais dos bons costumes e defensores da tradição, família e ...ops, proibiram a realização da Marcha da Maconha.



A manifestação que ocorre em diversas cidades do planeta, entre hoje e amanhã, não poderá ser feita em diversas cidades brasileiras, entre elas, São Paulo, a nave-mãe, e Curitiba, a cidade-modelo. No Brasil democrático, próspero e moderno de Lula, está proibida a manifestação e qualquer tipo de discussão sobre o tema.



"A Polícia Militar do Estado de São Paulo esclarece que por decisão do Desembargador Ricardo Tucunduva, acatando mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público, fica proibido o movimento "Marcha para a Maconha" Programada para o dia 04 de maio de 2008 às 14h00, no Parque do Ibirapuera.
Em decorrência da decisão, a Polícia Militar solicita ampla divulgação dos órgãos de imprensa, para que as pessoas que tencionavam participar da marcha evitem o local", diz o comunicado da progressista e humana Polícia Militar de São Paulo.



Enquanto isso, em Montevidéu, capital do "agrário" Uruguai, de Tabaré Vázquez, "aderiu à iniciativa e discutirá o tema, com o evento sendo animado por grupos musicais e uma grande feira de artesanato", avisa Wálter Fanganiello Maierovitch, Juiz aposentado e articulista da Revista Carta Capital.


E no longínquo Canadá, a marcha aconteceu tranquilamente. Assassinos não assassinaram, os monstros não apareceram e a bolsa de valores não foi afetada.
foto: Reuters