sábado, 25 de setembro de 2010

Na pracinha


- Vamos ficar ali no banco?
- Ah, não. Aqui tá legal. To com preguiça.
- ah, tá bom... então vou voltar pro formigueiro.
- tá.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Baliza

Encostou o carro. Longe da guia mesmo. Ao escutar o primeiro acorde, como se tivesse advinhado, já estava com a mão no botão de volume. O chiado não atrapalhou e ele ouviu os primeiros segundos com os olhos fixos e distantes. Um sorriso pequeno na cara. Mas aquele grito era como uma pontada no peito.
Bateu a mão no bolso, a caixa de fósforo. Acendeu com duas cachimbadas. Segurou a fumaça, como se quase desistisse de respirar.Lentamente expirou. Abriu a porta do carro. Aumentou o som novamente e saiu.
A noita estava quente. Encostado na janela, de olho no céu. A música vinha abafada, Cumprimentou a lua. Sempre lembrava que um dia ela já havia sido dele.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Aparência com

Contava o trigésimo segundo quarteirão, desde que tinha entrado no ônibus. O primeiro da trajetória até a casa. O sinal tocou. Que irritante era essa avenida, com pontos a cada três metros. Acumulavam todas as linhas naquele corredor.
"É uma política para não atrapalhar o bairro todo. Sacrificamos uma grande via em prol do restante", declamou o secretário ao jornal. Para ele, esse papo é uma palhaçada. Claro que o motivo é financeiro. É mais barato colocar todos os pontos e ônibus aqui para a manutenção. Mais fácil para a companhia de tráfego e as empresas mafiosas do transporte público montarem os trajetos. Pilantragem.
Era uma irritação quase incontrolável, com suor nas mãos. Na cabeça: porque eles fazem isso? Porque deixam eles fazerem isso? Porque deixamos? Porque eu deixo eles fazerem isso e uso essa gravata amarela com o nome da maldita loja de eletrodomésticos em que trabalho, que enfia juros em velhinhos. Até nos velhinhos! Todo dia era assim.
Desistiu da janela e voltou-se para o meio do busão. Pelo menos essa hora não estava abarrotado. Porque ônibus em uma faixa só? Porque não mais metr...De novo, não. Olhou para a porta, que se abria. Uma mochila apareceu primeiro.Logo depois uma cara com barba e olhos tranquilos, cabelos um pouco grandes e uma imensa mochila em suas costas.
Observou o cabeludo comunicar-se com o cobrador e decidir ficar na dianteira do ônibus. Mochila num banco, mochila gigante no colo e cara grudada na janela. Ele estava com fone de ouvido.
Quis ter lembrado de comprar um fone novo. Havia duas semanas que estava sem música. - Amanhã, balbuciou. O que será que o cabeludo ouvia? Tinha reparado que ele mexia levemente a cabeça, pra trás e pra frente. Rock, Rap, Reggae...será que esse cara tá escutando ópera? Ópera nem era tão ruim. Escutava na casa do vô, na macarronada de domingo. Puta que pariu! Rock, rap e reggae é bom demais. - Boa cabeludo, pensou.
- E essas malas? De onde esse cara tá vindo? Ele não ta indo. Já é meia noite, tá no sentido bairro. Puxou rapidamente pela memória a última vez que havia viajado com duas malas. Foi para a Bahia, 45 dias com uma namorada e uma casal de amigos. De ônibus. Na memória também viu que essa viagem marcou sua derradeira madeixa um pouco mais revolta. Dai, olhou para o seu reflexo na janela e deu uma risada irônica, olhando para o cabelo penteado dos últimos nove anos.
Não precisou baixar a vísta para recordar da gravata amarela. Porque tinha feito contabilidade, se a vontade era outra? Porque ainda mora com seus tios, se já podia estar em um cafofo honesto? Voltou a se concentrar no viajantecabeludorockeiro.
Concatenou as ideias: não estava queimado o suficiente. Bahia não foi. Nem em Ubatuba.
- Quantos reveillons já passei em Ubatuba, sussurrou pra dentro. Imaginou que o cara teria voltado do exterior. O Barbudo podia ter ido fazer mochilão na europa e ásia, que nem um primo seu fez, antes de ir para a faculdade. Na volta, decidiu estudar psicologia. Lembrou das festas do primo na Psico e das suas, na Contabilidade. - Firmeza o barba, pensou.
Seu ponto estava próximo. Levantou-se no mesmo momento em que o rockeiroviajantecabeludofirmeza atravessava a catraca. Apertou o botão e cem metros depois, a porta se abriu. Desceu e acelerou o passo.
A porta fechou e logo o sinal foi acionado novamente. A imensa mala lhe cansava os ombros, além da mochila menor e pesada. Coçou a barba, com cara de desaprovação própria.
- Putz... devia ter perguntado pra esse cara da loja de eletrodomésticos sobre uma máquina de lavar? Porque não fiz isso? Porque ainda lavo a roupa na minha mãe?Puto da cara, desceu e acelerou o passo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Quinta-feira


- Bom dia.
- Bom dia, tudo bem ai?- disse pausadamente, enquanto espreguiçava-se devagar.
- Tudo. Nossa, meu nariz tá completamente fechado. Parece que cherei.
- Não...isso a gente não fez.
Ela levantou, ficou em pé na cama, se enrolou no lençol e pulou para o chão. Na cozinha, pegou um copo de água. - Quer água?
- Por favor...vou fazer um café. - ele resmungou, enquanto abria a janela. - Que puta sol.
Encostada no batente da porta da cozinha, observava a sala do apartamento. Ele apareceu com um sorriso e os cabelos desgrenhados. Deu um gole de água, passou a mão na cintura dela, enquanto seguia para pegar o pó de café no armário cor de sangue.
- Tá com dor de cabeça?- perguntou, gentil, com duas aspirinas na mão.
Ela balançou a cabeça, negando. Aproveitou e esticou o braço para ligar o rádio. - Posso?
- Claro. Café forte ou fraco?
- Tanto faz. De qualquer jeito é necessário. Tá um solzão mesmo.
O rádio cantava "...Can't see where I am going/I will get to my destination..."e ela começou a dançar. O lençol já era um vestido, amarrado no pescoço.
De esgueio, com as mãos ocupadas e na frente do fogão, observava os passos da moça. Adorava olhá-las fazendo isso.
Levou as duas xícaras para a sala. Ela rodopiava, cantando cada pedaço da letra sem emitir som. No terceiro gole já se mexiam juntos..."lalalalala/I don't know where I am going to..."
-Vamos para a praia. - Sentenciou.
- Agora? Vamos. - ela respondeu, sorrindo e com a xícara quase na boca.
Enquanto a canção acabava, ele enfiou os pés no chinelo e botou uma camiseta em cima dos ombros. Não esqueceu da carteira, que estava na mesa. Rápida, pôs o vestido, as sandálias e a bolsa nas mãos. Saíram. Olhou por segundos para o apartamento, fechou a porta e passou uma volta com a chave. Desceram pelo elevador. Atravessaram a rua, entraram no carro dela.
- Posso te perguntar uma coisa? Não fica bravo?
- Não fico. Fala.
- Qual é o seu nome mesmo?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Lettre

Cher camarade

Como estão as coisas por ai? Meu silêncio termina hoje. Foram dois meses intensos e quase mudos por aqui. Muito trabalho para arranjar trabalho. Tempo para andar de porta em porta e conhecer essa cidade.

Começa a esquentar em Paris. Aproveito os finais de tarde para encostar em alguma praça do Bagnolet e ler alguma coisa. Ontem comecei "Cal", romance que acontece na Irlanda em tempos de IRA e toda aquela maluquice em nome de deu$. Gosto dessas histórias de amor entre um jovem e uma balzaca. Ainda mais agora que eu já não posso ser o tal moleque nas mãos conhecedoras de uma coroa. Minha costeleta grisalha que o diga. Me resta a ficção.

Como você já deve saber, Ângela me deixou. Na verdade, deixou quase tudo por aqui. Deixou uma carta também em que explicava todos aqueles motivos que circundam a única e decisiva razão. Fiquei por um tempo somente na companhia de Paulo, nosso peixe que tem o nome de um ex-namorado dela. Me contou isso na carta também. Se encontra-lá por ai, mande um beijo meu.

Apareceu uma gaja por aqui. Pilar é o nome dela. 23 anos, portuguesa e estudante de história. Sabe muito e fico com vergonha da minha ignorância em alguns (muitos) momentos. Daí uso aquelas caras de "eu sei do que você está falando", que, misturada aos óculos e as já citadas costeletas meio brancas contornam o leve constrangimento, que é meu, somente. Chegou por volta de três semanas. Coloquei um anúncio de aluguel de quarto em algumas faculdades. Pilar pintou.

Olhos castanhos claros, cabelo meio amalucado, roupas coloridas e sardas...não é fácil, meu amigo. Passamos horas conversando pela madrugada e colecionando garrafas de vinho embaixo da pia do banheiro 30cmx40cm. E queijos, muitos. Achava o sotaque engraçado, agora já nem posso escutá-la dizendo Bom dia com aquele "d" Até o mau humor matutino vai embora mais cedo. Sigo na minha.

Outro motivo para o silêncio foi o computador, que quebrou. Acho que eles já chegaram na fase de produzir esses laptops descartáveis, como os celulares, ventiladores e bandas de rock.
To sem dinheiro para comprar e, por enquanto, voltarei a viver à espera de cartas. Sem preguiça por ai. E ai? Como estão as coisas? Se acertou com aquela maluca? É melhor mesmo. Só ela te aguenta. Ainda mais com essa barriga cheia de cerveja.


No trabalho a situação melhorou? Soube que mudaram a chefia toda. Politicagem boa ou ruim? quem mandou se meter com Brasília. É nisso que dá. Pelo menos, vê se consegue tirar férias e venha para cá. Traga Beta e arraste mais uns vagabundos para Paris. Ficam todos aqui em casa. É um desculpa para Pilar dormir comigo também. Continua tudo igual.



E antes que você me pergunte. Não, não estou mais procurando uma bolsa para a pós. Virei clandestino há algum tempo. Meu visto, o segundo, expirou há um mês e desse jeito a única vaga que consigo é no avião, deportado. Também não consegui fazer amigos franceses. Mas faço parte do "Ennemis de la Frontière FC", o time de futebol de imigrantes do bairro e arredores. Temos mais dois brasileiros, além de poloneses, sérvios, argelinos, camaroneses, chinas e um alemão, que é meio turco.

O time é tradicional. Deve ter uns 20 anos. Dois moleques que jogaram aqui há uns anos foram pegos pela polícia durante um jogo, mas, antes de serem mandados de volta para a África, receberam a cidadania e hoje jogam na seleção francesa.
Me mande feijão e cachaça. Aqui tem, mas é caro. E fotos, mande muitas. Algumas em papel, para eu colocar na parede da sala.
Não volto tão cedo. ( o correio vai fechar...)

A tout l'heure

terça-feira, 8 de junho de 2010

Hora da razão

Olhei bem no fundo do olho dela. Disse que eu era maluco de falar aquelas coisas. - Nem me conhece, olha onde está. Nessa hora eu já brincava com a fita azul no punho esquerdo e ela nem se mexia. Do contrário. Ela ria e enxergava minha boca. - Sua barba tem partes meio vermelhas ou é a luz? Disse que pintava e, pela primeira vez, ela riu alto e esqueceu onde estávamos.
- Gosto dessa frase, eu disse com o dedo apontado para cima. - Qual? Disse ela.
Eu disse: Não vamos fuçar nossos defeitos. - É meio brega, ela falou com sorriso de covinhas do lado direito da bochecha. - Igual essa fita azul calcinha, eu retruquei.
Quase caiu da cadeira, às gargalhadas. Elas fazem de propósito. Virou a palma da mão para cima, apoiada na coxa. - Ela tem um laço. É meio brega mesmo.
- Ela é da maior importância?
- Claro que não. Você é muito brega, ela disse. - Não acredito que vai insistir com isso. Doido.
Sorrisos curiosos e tímidos. Pedi mais duas cervejas...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Parabéns, empresariado verde-amarelo

Hoje é comemorado o dia da Indústria no Brasil. Com a Fiesp de Paulo Skaf e tantos outros empresários e investidores, que tanto se dedicam ao desenvolvimento nacional, em polvorosa. Façamos uma pequena reflexão histórica. Claro, em ritmo de festa.

Entre 1950 e 1953, a Coréia viveu um período trágico. Empobrecido, o país passou por uma guerra entre EUA e aliados, contra a União Soviética e China. Ou seja, uma briga que nem era deles. Eram dos "libertadores".
Com mais de três milhões de mortos em três anos de conflito, a Coréia, dividida entre Norte e Sul, estava destroçada.

Quatro anos antes, em 1946, o Brasil de Getúlio Vargas inaugurava a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), até hoje, umas das maiores siderúrgicas do mundo. Era o Brasil entrando no mundo industrial com o pé forte. Bom, pelo menos, era para ser, mas....

Quase 60 anos depois, seguimos com a nossa indústria forte, preocupada com o progresso do país. E a Coréia, a do Sul?

Se ainda tem alguma dúvida, dê uma olhada pela sua casa ou pelas ruas e veja a quantidade de coisas daquele país que nós importamos ( Hyundai, Kia, Samsung e SsangYong...). De país destruído por uma guerra dos outros, a Coréia do Sul tornou-se um gigante econômico, que vende tecnologia ao mundo inteiro e que possui o melhor sistema de educação do planeta. Na década de 50, um em cada três coreanos era analfabeto. Hoje, oito em cada dez pessoas possui curso superior.

Parabéns Indústria brasileira, muito obrigado por tudo.

ps: ah, e a Coréia do Norte, o pessoal que gosta de nivelar por baixo vai perguntar. Bom, os dados sobre este país são pouco acessíveis. Mas, que eles deixam o império de cabelo em pé, eles deixam.

domingo, 18 de abril de 2010

Crise* Tricolor

O São Paulo ainda custa a aceitar, mas é hora de trocar a fórmula. Difícil insistir depois de levar mais uma aula do Santos. As duas filosofias não são novas, mas a usada pelo Santos é mais honesta. Em tempos de Indústria da bola, melhor entregar um produto de boa qualidade, cheio de dribles, tabelas, velocidade a animação, do que uma negócio meio, amarrado, esforçado, tenso, arrumado demais...apenas.

Saudosismo e títulos à parte, os são-paulinos têm como lembranças recentes grandes momentos defensivos (Mineiro-Josué, Miranda-Pirulito-Breno, Hernanes-Richarlyson...) e o fator Rogério Ceni, o goleiro-artilheiro.

Já é hora de, mesmo que o período de glórias não seja tão rico, reativar grandes a ofensividade tricolor, marca registrada na história do time. Leônidas, Zizinho, Teixeirinha, Canhoteiro, Toninho Guerreiro, Mirandinha, Pedro Rocha, Serginho Chulapa, Muller, Raí, Palhinha, Dodô, França, Luís Fabiano e companhia.

Hora de trocar três volantes por um, dois atacantes por três, chuveirinho por tabelas, responsabilidade extrema por malícia, cara fechado por risadas, futebol de resultado por futebol.


Toda a ideia deste texto foi baseada nos jogos com o Santos, o melhor time do Brasil. As outras derrotas foram embates entre o São Paulo, cansado dos quatro anos de f'órmula eficiente/desempolgante, contra equipes que iniciam o uso da mesma fórmula, só um pouco renovada. O sucesso pode até vir, mas o futebol, esse vai ficar no banco.


*definição: Oriunda do latim, o termo crise tem o mesmo sentido da palavra vento. Indica, um estágio de alternância, no qual uma vez transcorrido diferencia-se do que costumava ser.




sexta-feira, 16 de abril de 2010

Fusões



Essa parceria entre Beyoncé e Lady Gaga me lembra aquelas fusões entre grandes empresas, tipo Time-Warner, Itaú-Unibanco, AmBev-Interbrew, entre outras, muitas outras. Musiquinha meia boca, consumo (sucesso) absoluto, grana escorrendo pelos cantos da boca das duas e de suas gravadoras (ou é a mesma? Uma fusão também?).Alegria para poucos.


É o braço da tia Globalização na (indústria) música, que não perde a filosofia: pouca opção para muitos (e muito, mais muito mesmo lucro para uma meia dúzia).

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Bico de Papo de Capital Federal


- Seguinte. Fala pros caras votarem na liberação do homem. O cara já se fudeu. Puta constrangimento. Libera ele e a gente não volta a lembrar do esquema de vocês. Ano de eleição, sabe como é que é...

- Fechado. Passar bem.

- Ótimo. Bom dia.


- ...Alô...solta o cara.


terça-feira, 13 de abril de 2010

Mais um flagra do divino

Bom ou ruim? A cada flagra de pilantragem, a Igreja Universal do Reino de Deus dá uma explicação mais verdadeira sobre suas reais intenções. Se antes, Edir e os 40 mil lad...pastores negavam acusações e fatos, como o vídeo em que o próprio criador do empreendimento religioso é pego explicando como "pedir"o dízimo aos fiéis, agora, eles admitem que a o negócio é rezar para enriquecer. Pelo menos, eles estão conseguindo isso. E muito bem.

O problema é que fiel bom (para eles) é fanático e não enxerga um palmo à sua frente.

Mas o papo aqui inclui o casal cara de pau da Renascer, todas essas igrejas/empresas pentecostais, neopentecostais, que exploram a ignorância e a miséria humana, e também a ainda maior de todas, a inspiradora Igreja católica, que agora também passou a explorar criancinhas.

"Piedade para essa gente careta e covarde..."

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

madruga de quinta

Boa viagem 420 entre a pompéia com a francisco matarazzo e metro vila madalena. Aprox. 1h30. Uma hora de caminhada sem pressa, passando pelos sobrados escuros da pompéia, os paralelepípedos, jeito meio industrial ainda. Trilha sonora: Fela Kuti, Dada yute, Mombojó, Roots, adoniran, Ben harper, John Lennon, China...no sorteio maluco.