sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O tempo e o carro

por Vilauba Herrera

Entrei no carro com sono e sem vontade para papo. Já estava assim desde o baseado que tinha fumado no final do expediente, a cerveja com dois pedaços de pizza e a falta de paciência para interagir com os caretas.

Eram em quatro, contando com o motorista, que logo ao sair da garagem, acelerou, trocou rapidamente as marchas e disparou pela rua vazia e molhada e amarela. No banco do co-piloto, sem movimentar o pescoço, olhei para o motorista, que fungava e passava a mão no nariz, como se quisesse arrancá-lo. Tranquilizei-me. - O cara cheirou, então não me venham com encheção, falar que eu estou alterado.

Tentei puxar uma conversa, fiz uns comentários, mas não houve muita resposta. No banco de trás, um estava tão chapado quanto eu. O outro, puto. deveria estar com pressa e eu pedi para jantar no bar. - Porra, dois contra um, democracia. Espera um pouco.

Pensava ali, enquanto o carro mil cilindradas atravessava o centro da cidade em alta velocidade, o pessoal no banco de trás deve ter percebido que o motorista está doidão, um dos motivos de estar tirando tudo o que pode do automóvel. - Será que eles perceberam?

Uma freada e o carro parou, uns 3cm de outro automóvel. Sem perceber, a dúvida pela percepção alheia foi substituída por outra. - Será que esse cara vai bater essa merda desse carro?
Nem pensei em colocar a mão no puta que pariu. Sob o efeito do ragga, o medo fica somente na mente.

O parceiro do beque, da breja e da pizza foi o primeiro a deixar o foguete. Outra tentativa de diálogo, ou triálogo. Diplomacia com o cara bravo. Sem sucesso. Só umas quatro frases com o motora, que entrou em uma rua fechada pelo CET, com um amarelinho olhando. - Deveriam ter fechado a rua, como vou saber? - questionou o estriquinado.

Pronto, o mala, quer dizer, o outro cara foi deixado em seu destino. Pronto, só faltava um, deve ter pensado o condutor, que acelerou um pouco mais.
O silêncio dentro do automóvel, que deslizava (mesmo!!) pelo asfalto molhado, fez minha tese sobre o ragga ir por água abaixo. Me segurei no banco e sentia minha cara fazer caretas por baixo da roupa de pele e barba.
Por meio de telepatia, tentava me comunicar com a alma do motorista. - Vai mais devagar, cara. Não precisa ter pressa, estou na boa.

Não sabia mais o que fazer, estava tão agitado quanto o farofeiro do motora. E o carro parou, de supetão. Estava em frente a minha casa. Agradeci e desci do carro em 2seg. Abri o portão e corri para dentro. Excomunguei o inventor do automóvel ( Ford FDP!!!), os pilotos de F1 (não esqueci de você, Nelsinho) e todos estes playboys que preferem pegar no câmbio do que numa bunda.
- Da próxima vez, não fumo. Tomo um lexotan. E salve a bicicleta e os motoristas caretas!!!!!!!!

2 comentários:

Daniel Alcântara Domingues Fleming disse...

Contrata-se motorista farofeiro
Pago bem. Biciletaria do Maizena.

Moreno Bastos disse...

hahahahahahahahaha, boa!!!!!!!!
Me disseram que em Poços o pessoal tá querendo um motora também!