Pensei em escrever um perfil. Mas, Serjao alertou: "Todo mundo sabe quem ele foi e o que ele fez". Por isso, lembrei disso aqui.
Subi as escadas da estação de Abesses e sai em uma pequena praça, rodeada por plátanos, acho que eram plátanos, Tinha um carrossel, algumas crianças empilhadas nos bichos de plástico rodando e rodando. Sentamos em um banco, ao lado de uma mãe com seu carrinho e o bebê.
Marina deitou em meu colo. Era o meio da tarde, nossos pés já doíam, um calor insuportável. Faltavam algumas horas para pegarmos o ônibus para Amsterdam. Peguei o abridor vermelho e a garrafa que estava no compartimento de fora da mochila. O vinho branco estava meio quente. Demos risada. Estavamos ali em Montmartre e não tinha motivo algum para não beber aquele vinho morno. Marina tomou um pouco, em dois ou três, embarcou num sono leve. Encostei as costas no banco com cuidado. Era um tipo de banco duplo e do outro lado uma gorda descansava, justamente. Me lembrei da primeira frase que li, nas costas do livro: "Poupei cada centavo e então torrei tudo subitamente..."
Estava há cinco dias em Paris e era agosto e nos faltavam mais de 20 dias de viagem. Eu nem me lembrava disso ali, na praça. A cada gole, um sorriso inesperado. Aos poucos, o vinho fazia a sua função. As pessoas caminhavam normalmente e eu reparava em seus pés e eu ainda me questionava se aquilo era simples assim. E os cálculos? E as contas? O aluguel?
A mulher com o carrinho levantou e foi embora, acompanhei por alguns segundos, era o último gole. O último vinho em território francês. Ao fundo, uma banda de jazz formada por alguns senhores e uma senhora, de chapéu com uma flor.
A garrafa acabou, Marina abriu os olhos e desandei a falar. Aos poucos, ela deixou só de ouvir. Não precisariamos de muito dinheiro para viver bem por ali. Levantamos e fomos pegar as malas no hotel, na Rue Andre Gill.
Dias depois, em algum ponto da viagem, li:
"Dei uma caminhada por lá, começou a chover granizo em Pigalle, de repente o sol saiu em Rochechouart e descobri Montmartre. _ Eu soube então onde moraria se alguma vez retornasse a Paris. _ Carrosséis para crianças, mercados maravilhosos, tendas de hors d´oeuvres, lojas de vinho..." (Viajante Solitário, 1960)
Subi as escadas da estação de Abesses e sai em uma pequena praça, rodeada por plátanos, acho que eram plátanos, Tinha um carrossel, algumas crianças empilhadas nos bichos de plástico rodando e rodando. Sentamos em um banco, ao lado de uma mãe com seu carrinho e o bebê.
Marina deitou em meu colo. Era o meio da tarde, nossos pés já doíam, um calor insuportável. Faltavam algumas horas para pegarmos o ônibus para Amsterdam. Peguei o abridor vermelho e a garrafa que estava no compartimento de fora da mochila. O vinho branco estava meio quente. Demos risada. Estavamos ali em Montmartre e não tinha motivo algum para não beber aquele vinho morno. Marina tomou um pouco, em dois ou três, embarcou num sono leve. Encostei as costas no banco com cuidado. Era um tipo de banco duplo e do outro lado uma gorda descansava, justamente. Me lembrei da primeira frase que li, nas costas do livro: "Poupei cada centavo e então torrei tudo subitamente..."
Estava há cinco dias em Paris e era agosto e nos faltavam mais de 20 dias de viagem. Eu nem me lembrava disso ali, na praça. A cada gole, um sorriso inesperado. Aos poucos, o vinho fazia a sua função. As pessoas caminhavam normalmente e eu reparava em seus pés e eu ainda me questionava se aquilo era simples assim. E os cálculos? E as contas? O aluguel?
A mulher com o carrinho levantou e foi embora, acompanhei por alguns segundos, era o último gole. O último vinho em território francês. Ao fundo, uma banda de jazz formada por alguns senhores e uma senhora, de chapéu com uma flor.
A garrafa acabou, Marina abriu os olhos e desandei a falar. Aos poucos, ela deixou só de ouvir. Não precisariamos de muito dinheiro para viver bem por ali. Levantamos e fomos pegar as malas no hotel, na Rue Andre Gill.
Dias depois, em algum ponto da viagem, li:
"Dei uma caminhada por lá, começou a chover granizo em Pigalle, de repente o sol saiu em Rochechouart e descobri Montmartre. _ Eu soube então onde moraria se alguma vez retornasse a Paris. _ Carrosséis para crianças, mercados maravilhosos, tendas de hors d´oeuvres, lojas de vinho..." (Viajante Solitário, 1960)
Há 40 anos, morria Jack Kerouac, o pai da vagabundagem, dos viajantes, dos malucos e dos malditos.
O cara que fez a cabeça de Bob Dylan morreu na cidade de St, Petesburg, que apesar do nome meio russo, é na Flórida. E isso aconteceu bem no meio da guerra fria. Nada mais irônico, nada mais inconformado. nada mais beat.
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