sábado, 24 de novembro de 2007

Moda da novela não muda

por Vilauba Herrera

Admito, já fui um noveleiro. Acompanhava as peripécias nada criativas dos heróis, apesar de preferir os coadjuvantes engraçados, meio amalucados. Mas faz alguns anos que estou "limpo". larguei essa vida. E mais, passei a ser um militante faminto por justiça. Morte às novelas, o ópio do povo.

E uma das coisas que mais me deixa com vontade de quebrar a televisão são as chamadas tendências que as produções novelísticas criam. Se não me engano, lembro de uma novela. Já não assistia, mas fugir de rodinhas que conversam sobre o tema é utopia. Voltando. Lembro de uma novela em que a atriz Cláudia Abreu interpretava uma mulher que sempre estava com vestidos. Sempre!!! vestidos das mais variadas cores, bordados, tamanhos, sei lá. Mas ela só usava vestido.

Pronto. Virou moda. O comércio de vestidos aumentou 30%, os donos de shoppings, os lojistas pulavam de alegria, davam entrevista, iam aos programas mostrar as novas coleções. As revistas de corte e costura publicavam: "Com apenas R$20, faça um vestido igual ao de fulana (a Cláudia Abreu)."

Me recordo também da moda lançada por Reynaldo Gianechinni. Em seu primeiro papel na TV, não lembro em qual novela, o modelo/ator usava um penteado que revolucionou a cabeça dos brasileiros, mesmo os que não tinham/têm o cabelo minimamente parecido com o de Giane.

Até hoje, o cabelinho penteado para frente, com um topete fingindo que é sem querer, domina a cabeça da população nacional. isso já faz alguns anos. Acho que veio para ficar.

Na última novela das 8, "Paraíso Tropical", a estupenda Camila Pitanga foi Bebel, puta ao estilo Júlia Roberts, em "Uma linda mulher". A morena causou comoção nos homens e nas mulheres, com suas roupas sensuais. As lojas pipocaram. Luciana Gimenez, da outra emissora, levou uma dúzia de estilistas que desenhavam a roupa que Bebel desfilava pelas ruas da zona sul.

Agora, a moda é pole dance, que foi trazida para o mundo global pela atriz Flávia Alessandra, eleita a nova Bebel, mas na novela Duas Caras, que substituiu "Patropi". Pole dance é aquela dança que as strippers fazem naquela barra de metal.

A moda já pegou. Após Flávia Alessandra exibir tudo que aprendeu com sua professora alexandra Valença, anônimas desse nosso Brasil já abandonaram as academias e as aulas de bolero, para aprender a arte da dança sensual e até reconquistar seus maridos e amantes.

Tudo muito bacana. Mas a pergunta que fica é? Quando uma novela vai lançar a moda de não jogar lixo pelas ruas? Quando a Suzana Vieira vai ser modelo para aquelas mulheres que se recusam a deixar a merda de seus cachorros pelas vias públicas? Quando veremos uma matéria no site do G1, informando que devido ao herói da novela das 8, as pessoas deixaram de furar filas nos bancos, no metrô, passaram a ler um livro por mês...etc

Não se esqueçam que as redes de televisão são concessões. Elas devem satisfação a nós, ao estado. Temos o direito e o dever de fiscalizar o que essas empresas colocam nas caixas quadradas hipnotizantes. Esse papo de "se não quiser ver, mude de canal, ou desligue a TV", é no mínimo tendencioso e apavorante.

Nenhum comentário: