quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mercearia

por Vilauba Herrera



A porta abre rapidamente, mas fecha devagar.

- Bom dia.
- Bom dia, posso ajudar.
- Sim, vim para as compras do mês. Estou faminta.
- Estou a suas ordens.
- Eu queria meio quilo de coerência, dois de confiança e quatro quilos de carinho.
- Sei...
- Não sou muito disso, mas estou numa fase meio assim...
- ...pronto, está aqui, só isso?
- Não, imagina. Preciso de duas travessas de perspectivas, um pedaço de futuro e duas fatias de bom senso.
- Olha, eu só tenho uma fatia de bom senso, mas tem bom humor, quer?
- Serve, me dá três fatias. Com isso, acho que dá pra fazer alguma coisa.
- Você tem equilíbrio?
- Só um maço. tem saído muito nos últimos dias.
- Mas tá bonito?
- Tá sim.
- Então eu quero.
- Deixa eu ver....tem malícia e medo? Mas daqueles menos concentrados, em frascos menores. Sou um pouco alérgica, mas é bom ter em casa, né?
- Claro. Esse tá bom?
- Obrigada. Acho que é isso.
- Tudo dá....
- Calma... você tem alguns pacotes de Paixão e um litro de paciência, se chegar sem isso, será um horror.
- Putz.... eu tinha, mas acabou.... eu tenho amor sobrando.
- Não quero, a última vez que comprei, mofou.

5 comentários:

beta disse...

Muito bom! Adorei!

[de lima] disse...

apreciei com voracidade. hahaha. os produtos. bem criativos, parece que têm até cores.

JM disse...

O texto ficou incrível, mas o desfecho ficou do caralho, velho!... Tudo tão real e palpável no meu dia-a-dia, como pareceram vários desses produtos...

Daniel Alcântara Domingues Fleming disse...

vende-se confusão à granel
tratar c/ daniel

Serjão disse...

O proximo passo vai ser o supermercado da vida.
Belo texto Vilauba, belo texto.