segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O dia começa pela manhã

por Vilauba Herrera


A noite tinha sido daquelas. É o que dá ser um grande apreciador de cerveja e trabalhar como lavador de pratos em um típico pub londrino. Mas aos 19 anos, na Inglaterra há cinco dias e com um vocabulário nativo de sete palavras, ter arranjado um emprego estava ótimo, mais do que ótimo.

Mas ótima não estava sua cabeça na manhã de 30 de janeiro de 1969. Sentia a testa latejando, a boca seca. O pior era o frio. O cobertor, as sete camisetas e três blusas de lã costuradas pela vó não eram suficientes para o inverno inglês, naquele quarto em um sótão sem calefação. Idéia do marroquino, parceiro de cozinha no pub, mas que nunca dormia lá.

O dia já tinha surgido na janela, mas poderia ficar mais duas horas na cama. Colocou o travesseiro na cara e se sentiu confortável. Poucos minutos depois, vozes o tiraram do sono pesado. Resmungou sem abrir os olhos. Logo o número de vozes aumentou. - Uma briga na rua no prédio da frente é muito azar, pensou. Mesmo assim, permaneceu deitado.

O ronco já tinha voltado a dominar o cubículo, quando gargalhadas invadiram o ambiente. Levantou de sopetão, o travesseiro foi parar do outro lado do quarto. Olhou para os lados e quando colocou o pé esquerdo no chão, o barulho cessou. - 1, 2, 3, 4 , 5, 6...no oito já estava deitado novamente, com uma das mãos segurando a cabeleira, um travesseiro adaptado.
Um ruído fino chegou aos seus ouvidos e de quem estivesse a um quilomentro de distância.

Puxou o cobertor até a cara. O barulhou foi substituído por uma balbúrdia de palmas e uma voz meio anasalada. - Vão todos tomar no cu, eu vou acabar com essa porra toda. Pulou da cama e correu com a raiva nos olhos, abriu a janela e quando ia excomungar a Grã Bretanha inteira, viu.

Um comentário:

Serjão disse...

O marroquino fez efeito.
Gostei da sacada, texto com trilha sonora de primeira.

salut