quarta-feira, 25 de junho de 2008

Um sonho de família

por Vilauba Herrera



Laerte é publicitário. Bem sucedido, mora em um bairro nobre da capital paulista, condomínio fechado. Responsável pelas contas mais importantes da agência, Laerte é um profissional dedicado. Tem hora marcada para chegar, mas não para fugir. Já conheceu 22 países do planeta, mas isso na época de estudante. Há 12 anos, Laerte passa suas férias (uma semana, o resto ele vende, por que seu patrão pede) em Maresias, com a mulher, Norma e o filho Estevão, de 10 anos.
Laerte já ganhou sete prêmios internacionais de propaganda. Seu nome é conhecido nos quatro cantos do marketing mundial, por sua criatividade. Em casa, Laerte era adepto do papai e mamãe, quando ainda dormia com Norma. Hoje, passa as noites no sofá e assiste sempre o mesmo canal em sua TV de LCD de 45 polegadas, acompanhado da mesma marca de whiskie 18 anos.
Norma é bonita. Aos 39 anos, tem uma rotina dura. Acorda às 8h e leva Estevão ao colégio. Emenda na academia e três vezes por semana, pratica ioga com suas amigas do clube, local dos encontros nos finais de semana.
Ex-gerente de multinacional, Norma abandonou a vida no escritório para labutar em casa. Foi uma imposição carinhosa de Laerte. O começo foi duro, mas os cuidados com o filho, os compromissos com matriculas na escola, escola de inglês, alemão, natação, informática, Kumon, ocuparam seu cotidiano em pouco tempo e ela tornou-se mestra no assunto. A vida em casa também melhorou com as seguidas viagens profissionais do marido. Assim pode deixar a casa como sonhava, limpa e branca, sempre.
O serviço doméstico fez mal ao seu sono. Nada que algumas doses de lexotan, dramin e por vezes, rivotril, não resolve-se. A medicina faz milagres.
Estevão é o melhor aluno da classe. O último 9 aconteceu por distração, em uma prova de ciências. No recreio, seu apelido é minhoca, por ser muito branco e muito magro. O garoto gosta mesmo é de ficar sentado assistindo os jogos de futebol. Às vezes, até se arrisca como juiz, mas dois ou tr§es xingamentos dos jogadores e ele volta ao banco verde do pátio. Após um tombo em uma apresentação aos pais, aos 8 anos, Estevão conseguiu convencer os pais em tirá-lo das aulas de educação física.

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