Não
é difícil se perder em Varanasi. Se você ainda está na
disposição, então. Fui engolido por multidões de peregrinos que
rumavam em diversas direções. Por alguns momentos, nem tive opção
de decidir pra que lado iria. Acabei na rua do mercado principal, com
suas lojas de temperos, cheias de potes de vidros coloridos e
pequenas gavetas. Em outra viela, o brilho dourado dos braceletes,
brincos nas bancas de bijouterias. A chuva caía fina e ajuva a
emporcalhar ainda mais a velha e louca Varanasi. O chão tornou-se
uma pasta de merda e lama escorregadia, misturada com lixo.
Em uma das maiores ruas, que desembocam no Ghat principal, uma fila de peregrinos, de alguns quilômetros, entre estacas de madeira e policiais com metralhadoras e varas de bambu, aguadavam sua vez para chegar ao Golden Temple. O fim da tarde se encaminhava e entrei num barco a remo para visitar o Ganges, a ganga. A noite caiu e não consegui concluir o plano, que era ir até a outra margem. Fiquei no passeio comvencional, com direito a fumaça no burning ghat e velas e oferendas, que me deixaram com peso na consciência, nas águas do rio. Também vi a iluminada Pooja, o ritual de orações e oferendas no grande Ghat.
Em
meio a um apagão, fui assistir a show de música e dança indiana
clássica.
Caminhei
pelas ruelas escuras e lamacentas atrás do Ashram onde iria
acontecer o concerto, pelo Khumb Mela festival. Os guias eram os
amarelos cartazes grudados pelas paredes, iluminados pelos celulares.
Na busca, me juntei a mais um grupo e um morador nos levou até o
lugar O concerto de uma espécie de violão, diferente do
tradicional, e tabla, ocorreu em um pequeno palco, um tatame de pano
claro. As pessoas se esparramando por ali. Todos estrangeiros.
Reparei em dois ou três rostos conhecidos, possivelmente de
Allahabad. No espetáculo de dança, parte do tatame foi retirado e o
dançarino apresentou-se acompanhado por uma dupla de músicos.
Eram
6h30 da manhã e levantei e corri pela escada e cheguei ao terraço.
Uma mulher fazia Yoga. Alguns macacos caminhavam nos muros dos
terraços de prédios ao lado. Outros turistas acompanhavam o
alvorecer. O rio estava rosa e os barcos pareciam esfumaçados, de
longe.
Organizei
a mala e tomei o café da manhã com quatro macacos, que
literalmente, colaram na grade do meu quarto. Escutamos Jorge Ben e
nos alimentamos com uma dúzia de bananas que havia comprado no dia
anterior. Eles foram embora e eu também, após o check out.
No
dia chuvoso, me disseram nas ruas para não reclamar. “Quando cai água no seu último dia em Varanasi, é sinal de que vai voltar”.
Vasculhei algumas lojas de livros, incensos e chás. Aproveitei para
retomar alimentação nas barracas de rua, para o azar do meu estômago.
Encerrei
no Karki's Bar: um sobrado com almofadas no chão, mesas baixas,
pouca luz, pouca pintura, um grande NO PROBLEM nas paredes e
incrível demora para servir um chá de gengibre com mel e limão.
Entre um pipe e outro, escutava o papo alheio. Poderia ficar horas
por ali, se pudesse. Não podia. Corri para o hotel. Tinha que pegar
as malas e ir para a estação.
2 comentários:
Qual som do Jorge?
quem roubou a sopeira de porcelana chinesa...
nóis, meu irmão.
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