domingo, 25 de maio de 2008

Fuga

por Vilauba Herrera

Levantou num salto. Já estava acordado e vestido. Só enrolava na cama, com os braços para atrás, mãos na nuca, reparando de olho fechado a respiração falha. Nariz entupido.
Pegou o fio dental verde. Tirou o pedaço necessário, encostou o ombro na porta de ferro da sacada. Do oitavo andar ele via o dia feio e cinza e triste. Jogou o fio dental verde e vermelho no lixo. Espreguiçou, gemendo.

Olhou no relógio, enquanto ligava o som. Música francesa. Sentou no sofá azul gasto. O teto era sujo, as paredes com quadros amarelados. Levantou, pegou a carteira em cima da mesa, os óculos e caminhou até a porta. Hesitou. Maia volta e entrou na cozinha. Abriu a geladeira. Com a porta escancarada, abriu uma gaveta do armário, tirou uma faca e pegou um pequeno pedaço de queijo branco. Lavou, secou e guardou a faca. Abriu o freezer, tirou um cubo de gelo da forma, jogou na boca e fechou a geladeira. Tentou cantarolar a música com o gelo na boca, babou na camiseta, ficou irritado, engoliu o cubo, engasgou, tossiu e sentiu dor nas costas.

No banheiro, olhou-se no espelho. Passou a mão nos cabelos, abriu a boca, viu a mancha de água na roupa.
Saiu em disparada, passadas rápidas, abriu a porta e antes de fecha-la, escutou mais um pouco da simpática canção, que não entendia."On me dit que nos vies ne valent pas grand-chose..."

Fechou a porta, desceu a escadaria vermelha. Esperou o porteiro ir até a garagem e passou pelo portão. A tarde acabava. Atravessou a rua, andou vacilante até a esquina. Ainda viu o primeiro carro de polícia parar em frente ao prédio.

Um comentário:

[de lima] disse...

zed's dead, baby
zed's dead.

hahaha