quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Kajuraho tem até canguru perneta


Kajuraho nem parece que é uma cidade que recebe tantos turistas. Como também não parece que um dia foi a capital de uma dinastia. Talvez não parecer seja um dos pontos positivos do lugar, acanhado, ensolarado e cheio de pássaros. Em poucos minutos é possível caminhar pela área central e logo dá para avistar campos e plantações.

A cidade, no norte do estado de Madhyar Pradesh, área central da India, tem no passado os Chandela, uma dinastia dos Rajput que controlou a região por dois séculos (10 a 12). Eles tinham como crença o tantrismo, religião que teria desaparecdio junto com a dinastia. Mas suas marcas reapareceram no século passado e são elas que fazem Kajuraho ser um grande ponto turístico indiano. É na cidade que estão os templos religiosos com esculturas eróticas.


Quando cheguei aqui, tinha a impressão que iria encontrar o Kama Sutra esculpido em Sand Stone. A ideia reforçada pelos vendedores que ficam de fora dos templos, oferecendo livros de fotografia da cidade e edições do Kama Sutra. Mas não, toda aquela variedade que o milenar livro oferece não está presente em Kajuraho. Mas é possível observar interessantes posicionamentos, podemos dizer. Devido ao tempo (falamos de no mínimo 700 anos), algumas esculturas perderam partes, o que provoca até mesmo a alteração das práticas sexuais. O que poderia ser um colinho, por exemplo, vira um canguru perneta e assim vai.



As boas e velhas, põe velhas nisso, também estão lá. Se você procurar bem, como eu fiz, vai ver que sexo com cavalo não é coisa de filme pornô bizarro. Já estava, pelo menos, na cabeça do homem, há muitas gerações. No meio, esculturas de outras atividades comuns, como trabalhos no campo, bandas, danças, animais, soldados. As divindades, como Shiva, Vishnu, Ganesh, entre outras, ganham destaque. São as maiores esculturas, já que os templos foram construídos para sua devoção. 

E é bonito. A Sand Stone é uma pedra em tom amarelado escuro, mas que clareou com o contato do sol. Dentro dos templos, onde não existem esculturas eróticas, a pedra é escura e com uma textura que parece estar sempre úmida. A arquitetura é complexa, cheia de desenhos, tribais e muitos detalhes, em meio às esculturas.

São alguns conjuntos de templos pela cidade. Fui apenas ao western temple, o principal. No passado, foram 85 templos, cada um com seu lago. Hoje, segundo dados oficiais, cerca de 20 e poucos estão lá. Mas também caminhei um pouco para fora da cidade e pude conhecer outros três templos, com ajuda de Hari, um guia que disse odiar a cidade e que espera os turistas para mostrar “a vida indiana real”, na área rural de Kajuraho.



Conheci o templo mais antigo da região, de 900 anos atrás. É chamado 64 yoginis. Uma construção de granito, trazido das montanhas ao redor de Kajuraho. As Yoginis são as as mulheres mestres em Yoga. O templo consiste em 64 pequenos comodos, em pedra, um para cada yogini, em homenagem às deusas da mitologia, Lakshmi, Durga, Parvati, Kali, a principal, e mais 60 delas, que não sei o nome. Segundo o guia. Elas viviam nesses cubículos e toda manhã, se dirigiam ao centro do templo, que não tem teto, para praticar Yoga e meditação.

 Hoje, ele diz que o local ainda é segrado e muitas cerimônias continuam a acontecer. “Na noite anterior houve uma cerimônia”, me disse, apontando cinzas de uma fogueira e restos de velas no centro do local. Ali, se gunco ele, acontecem as pujas, que são esses rituais de devoção e agradecimento às divindades. Do lado de fora, perto de restos de outro templo, vi anéis, pulseiras, flores e outros presentes espalhados pela grama baixa e seca.


Arrumo minha mochila para próxima etapa da viagem.  Vou para Bodhgaya, ver os primórdios do budismo.



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