terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Khumb Mela


O Khumb Mela é o maior festival religioso do mundo. Minha descoberta faltando apenas um mês para chegar à India. O mundo ocidental cristão não abre a janela para a gente ver isso. A Globo, por exemplo, vai para o Khumb Mela só agora, usando Prem Baba como gancho.


Ele ocorre nas cidades de Allahabad, Haridwar, Nasik e Ujjain. A cada 12 temporadas, ele toma Allahabad, cidade localizada no estado de Uttar Pradesh (centro do país) na junção dos rios Yamuna e Ganga, para o Maha (maior) Khumb Mela. Essa é um dos motivos que faz o local ser considerado especial, sagrado para os indianos e suas múltiplas seitas.

A lenda diz que em , após uma batalha entre Deuses e Dêmonios, o amrit, o néctar da imortalidade, teria caído neste local. Desde então, o Khumb Mela ocorre. Suas datas principais são os banhos sagrados nas águas dos dois rios. É a procura por um pouco da graça deste néctar que atrai cada vez mais pessoas, trazidas por seus líderes espirituais.

Além dos gurus, Babas, mestres e seus seguidores, o Khumb recebe os sadhus, os homens santos da religião indu, que chegam de todas as formas de todo o país.

Mas não é só a religião predominante que está no evento. Camps de outras crenças também marcam presença. Dalai Lama, representante máximo do budismo está lá, os muçulmanos estão também.


O Khumb Mela também serve de encontro entre a política espiritual e religiosa com a tradicional. Em alguns dos eventos socioambientais realizados no camp 13, também de Prem Baba, em divisão com Swami Chidanada Ji, o governador de Uttar Pradesh, chamado de “ Governador Verde” esteve presente.


Com a decisão de adentrar ao ambiente proposto no camp de Prem Baba, além da gripe que me derrubou por um dia, tive apenas uma oportunidade de caminhar pelo lado mais efervescente do Khumb. Tive a oportunidade de ver o momento em que centenas de Sadhus são alimentados, no fim da tarde, à beira da Ganga. Percebi o quanto transforma a própria distribuição da população de Allahabad. Muitos habitantes da cidade saem de suas casas e se mudam para o festival. Foi mais um momento em que percebi (não quer dizer que entendi) a complexidade da sociedade indiana e seus mais de 1 bilhão de personagens.

Vi pouquissimos estrangeiros e observei que muitos locais preferem assim. Pude fazer algumas tentativas de retratos, já que tanta gente pede fotografias. Fui alertado sobre os trombadinhas. E por esse alerta, me pediram um trocado.

Também acompanhei, na caravana de Prem Baba, eventos religiosos, ambientais, sociais e políticos. Participei de um encontro no Sachcha Ashram, perto de nosso acampamento. Lá estava Prem Baba e outros gurus, como Swami Chidananda Ji. Ashram é um local onde se busca, através de um líder religioso, o retiro para evolução espiritual, em um resumo bem resumido.

As margens do Yamuna, próximo à Ganga, acompanhei um acordo entre líderes espirituais e humanitários para a despoluição do sagrado rio. Dalai Lama disse que ia. Mas furou. Um representante esteve em seu lugar e deve ter frustrado a imprensa, que encheu barco com as cores da India.


Eu queria ter visto o Dalai Lama. De campanhas para despoluição já estou calejado. As intenções podem ser boas. Talvez a ação feita por líderes religiosos seja uma cartada para chamar melhor a atenção da população, claramente pouco preocupada com questões sanitárias, mas ainda fortemente influenciada pelas crenças.

O problema, de certo ponto de vista, torna-se outro. Que postura terá a própria religião, nada acostumada a fazer críticas a seus fiéis, para colocar esse dedo na ferida? Se religião é conforto, quem terá coragem para pisar nos ovos? Como?

E como fazer um programa de despoluição de um rio sem tratar da questão do consumo, do crescimento das cidades, da densidade populacional. Que religião já falou sobre controle populacional? Quem quer perder rebanho?

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