terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Chegada em Allahabad - Maha Khumb Mela



Uma hora depois das dentadas nos biscoitos psicodélicos de Jaisalmer jogava a mochila nas costas para deixar o hotel em Agra. Segui o motorista do Rickshaw com os olhos pequenos e os ouvidos atentos à música que emanava de um casamento, num prédio ao lado. Algumas árvores, grandes, árvores, ficam no das avenidas principais. Os carros que desviem.

No terminal Cantonment Agra de trem, luzes vermelhas dos letreiros em meio à fumaça e gente e malas e panos e olhares. Parei logo no começo da plataforma 4, perto de dois coreanos. Gravei uma imagem de um trem de carga, que demorou mais de três minutos para que todos os vagões sumissem da minha frente. Um casal brigava na plataforma três. Ela batia nele. Aos poucos a raiva parece que se foi e eles sentaram-se lado a lado em um banco. Ratos vasculhavam os trilhos. Ratos grandes.

Enquanto isso pensava na batalha caótica entre a cultura e as tradições milenares indianas diante da sociedade de consumo. Será isso o motivo da organização de alguns setores das cidades, da sujeira? Não era assim antes? Como era antes? E por quanto tempo o olhar pouco agressivo (minha opinião) dos indianos diante dos turistas ainda permanecerá?
Ou será que não é batalha? São só dificuldades para adaptação de um relacionamento suicida (pelo menos ao meio ambiente). Estava indo e indo com pensamento acelerado e feições tranquilas, quase de olho fechado.

Nessas, o trem chegou e andei calmo até o outro lado da plataforma. Vagão S1, acento 54 da classe sleeper, a mesma da viagem Mumbai-Goa. Lancei as malas pra cima e subi.

Acordei 5h da matina, horário previsto para a chegada em Allahabad. Mas estávamos lá. Poderia ter dormido mais uma hora e meia se não fosse o dono babaca do despertador, tocando de 5 em 5 minutos.


Paguei uma bica no taxi. Estava frio e vi uma menina com o nariz sujo e sorrindo com as mãos próximas à fogueira, ao subirmos uma ponte. Na entrada da área fechada ao Khumb Mela, um grande comércio de flores laranjas é aquecido ainda aos primeiros raios da manhã. São as flores de oferendas.

O motorista me deixou numa rua de terra com neblina, dizendo que era o portão 14. Quilômetros e mais quilômetros de tendas às margens dos rios Yamuna e Ganges (a Ganga). O Khumb Mela de 2013, o Maha Khumb Mela, acontece na junção dos rios. Encontrei o camp e sentado e enrolado no cobertor, assisti uma aula de yoga e tomei café da manhã enquanto o Welcome Center não abria.

Estava no Camp Together 2013, feito por Prem Baba. Ele é um líder espiritual nascido no Brasil, que tem seguidores em diversas partes do mundo. Da linhagem Sachcha, Prem Baba atua na união espiritual entre oriente e ocidente. Ele divide seu tempo entre o Brasil e a India, nos Ashram's no interior de São Paulo e em Rishkesh. É chamado de Guru do Amor. Ele é também considerado um líder humanitário e abrange seu trabalho em ações socio-ambientais, principalmente.



O Khumb Mela tem uma organização impressionante. Cerca de 70 milhões de pessoas devem passar pelo festival, que começou em 14 de janeiro e vai até meados de março. SWU, Woodstock? Glastonbury Esqueça. É outra dimensão. Allahabad é tomada por tendas e barracas e lonas, em grandes e pequenos, organizados, simples, estruturados, acanhados e desorganizados acampamentos. Além da área principal, à beira dos rios, muitas outras partes da cidade são preenchidos por gente que vem de toda a India e outras partes do mundo, dentro e fora de áreas demarcadas. É uma cidade que se acomoda  mais de dois meses dentro de outra. E como uma cidade, existe água, energia, banheiros para muitos, não todos. Para o lixo e esgoto, buracos são abertos às margens dos rios, que meses adiante, cobrirão todo aquele espaço. Este Khumb, o Maha, ocorre de 12 em 12 anos.

Fiz o check in e fui para minha tenda, número 20. Dois argentinos, um chegou depois, um inglês e outro brasileiro (um saiu, outro chegou).
Depois de tantos e-mails precavidos sobre a situação no acampamento, estava em um hotel. O camp tem tudo, até água quente, quando necessário. Comida boa e farta (spice ou no spice), três vezes ao dia, cama, cobertores e a aula de Yoga, que não fiz.

Após um banho, fui à pé até o camp 13, onde seria realizado o Satsang com Prem Baba. Dois quilômetros de caminhada para perceber que estávamos na márgem tranquila do Khumb Mela. O núcleo estava ali, ao lado e eu ouvia seus poderes. Pontes baixas construídas sobre grandes boias metálicas ligavam todos as margens do evento. Mas o transporte por barcos é rico. Centenas, para não dizer milhares de barqueiros ofertam seus serviços.

Em todo o terreno destinado ao Khumb Mela à beira dos rios, postes de energia e alto falantes, estes, ligados quase 24h, transmitindo toda a série de rituais, discursos, satsangs, músicas, mantras...