quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Do frio alemão ao sol indiano (e parada no deserto)


O despertador tocou umas 5h30 da manhã de terça, 8/1/2013. Havia deitado 2h30. Então enrolei mais um pouco com a desculpa que ainda nem tinha café da manhã, muito menos transporte para me levar ao aeroporto. Umas seis e pouco, levantei e rapidamente estava pronto, após uma ducha. Fui para o café da manhã e comi bem. Ainda tinha pão e queijo no meu quarto, que seria o alimento pré vôo. Peguei as mochilas, entreguei o cartão e sai do AO. Ainda não tinha amanhecido e já era quase 8h. Frio. 

Caminhei pelo Herzogstrasse até uma outra que não me lembro o nome, que me deixou ao lado da Friedrich Bahnof (acho que é isso). Uma mulher me ajudou a comprar o bilhete. Estava um pouco sonado ainda. Coloquei o fone de ouvido e logo o trem chegou. Moderno e silencioso, foi passando por toda a zona norte de Dusseldorf, as pessoas indo trabalhar. Estudar, turistas com suas malas imensas. Em pouco mais de 20 minutos, chegava ao aeroporto.

Entreguei a mala no check in, peguei os bilhetes e fui dar uma volta. Foi no meio do caminho que lembrei do pão com queijo esquecido em um bolso da mala despachada. “Fodeu, vão travar a mala. Alimento perecível aberto, queijo na India, sei lá”, pensei isso e mais algumas dúzias de bobagens.
Mas não tinha o que fazer. Também não tinha o que fazer no aeroporto, então fui para o portão. Após uma tremenda fila na revista de malas e roupas, ainda tive que enfrentar o papo chato de um funcionário que encrencou comigo. “O que você vai fazer na India? Por que está na Alemanha? Quanto tem em dinheiro?”

Comi uma mini pizza e comprei uma água para ler e esperar a chamada do vôo. Tentei achar um guia em inglês da India (É, eu estou sem guia). No avião, peguei um lugar no corredor, que para minhas pernas, é o menos pior. Mas vi que alguns outros grandões estavam sendo transferidos para locais melhores. Também quis e mudei. Fui sentar em um lugar que tinha muito espaço para as pernas e perto do banheiro. 

 Ao meu lado, um cara com jeito árabe, que passou a viagem toda escrevendo o que parecia ser um, manual, em um sistema que parecia o excel. Admito que tentei ler, mas era um papo bem técnico em inglês. Preferi acompanhar os programas que a Etihad oferecia na televisão de cada assento. Vi um pedaço do jogo entre Manchester City e Queens Park Rangers, que deu o título inglês ao City na temporada passada (Time patrocinado pela companhia aérea). Também vi o video dos 500 maiores gols da história, que achei a maior cascata, porque não tem nenhum gol do Romário, nem do Ronaldo, muito menos aquele do França, de bicicleta. Françoaldo era foda.

 E por fim, ainda treinei o italiano no filme Piazza Fontana, sobre as disputas políticas e ideológicas na Itália entre as décadas de 60 e 70.

Incontáveis horas depois, chegamos em Abu Dhabi, que de cima, parece um grande conglomerado de condomínios, desses dos coxinhas, cheios de luzes. Por sinal, acho condomínio fechado uma merda. Vi também o The Leaning, um prédio em forma de tocha, meio torto, que tinha visto no documentário da NatiGeo. Tudo muito cheio de opulência. Ah, também vi de cima, por alguns segundos, a partida entre Emirados Arabes e Bahrein, que depois acompanhei pela TV, no saguão do aeroporto.

Cerca de uma hora foi o tempo que aguardei no aeroporto de Abu Dhabi, que é dominado pela Etihad. Não vi um avião de outra companhia. E eram muito aviões. O aeroporto é grande.

Foram mais 3h de viagem até Mumbai, aproximadamente, num avião mais modesto, com um casal de israelenses meio folgados ao lado.
Passei pelo saguão dos passaportes, mostrei o meu e fui ao pátio pegar minha mala. Lembrava do pão com queijo quando a vi, deslizando na esteira. Tinha um bolso que parecia aberto. “É o bolso do pão. Eu sabia”.

Antes de pegá-la, um funcionário a agarrou e antes que eu pudesse dizer alguma coisa, a colocou no chão, junto com outras. Corri, abracei a mala e sai andando sem olhar para trás. Passei pela esteira do raio x e pronto. Pronto, na India.

Mas era madrugada e não tinha para onde ir. Fiquei no corredor de saída, perambulando. Vi que muita gente estava na mesma situação. Encostei na parede de vidro e fiquei ali, vendo as pessoas e o tempo passar. Depois de passar umas informações para os israelenses que vieram do meu lado na viagem, logo um veio conversar. Era Ahmad, um indiano falador e gente fina. Estava voltando de Moscou. Foi para lá passar um mês de férias. Mas não aguentou e em 10 dias, sendo nove dentro do aeroporto russo, voltou pra India. “Muito frio e muito caro. Uma água, seis dólares”, disse. Fiquei me perguntando porque ele não tinha pesquisado preços antes. Mas sei lá, eu ainda acho que nessa viagem vou me fazer essa pergunta, então não disse nada.

Estava esperando dar 8h para ir pegar um ônibus para Bangalore, sua cidade natal, que segundo ele, é bem mais legal que Mumbai. Contei que ia para Goa e ele não titubeou. “Já fui para lá. Você pode encontrar o que você quiser por lá. Entendeu? O que você quiser?” Entendi, disse, mas também respondi que não estava procurando essas coisas agora. Queria uma cervejinha apenas. “Sim, mas e você quiser, tem”.

Uma hora, Ahmad me pediu que olhasse as coisas dele, pois precisava fazer alguma coisa que não entendi bem. Dei um tempo eu levantei para esticar as costas e dar uma apurada ao redor. Ele estava em um canto, do outro lado do corredor, virado pra Meca, rezando.

Voltou e perguntou se tinham muitos ilslâmicos no Brasil. Disse que poucos. O cara do café e chá passou com o carrinho e ele me ofereceu um. Agradeci. Era um café com leite bem doce. Me indicou onde eu poderia pegar informações de quanto tempo e quanto gastar pra chegar ao terminal Lokmanyatilak, onde pegaria o trem para Goa. Também papeamos sobre nossas profissões, eu jornalista, ele dono de uma pequena joalheria, e falamos de cricket e futebol. Torcedor do Real Madrid, mas sabe jogar é cricket. Depois dormiu encostado no carrinho de malas. Enquanto eu tomava conta das coisas.

Ao acordar, o rapaz se espreguiçou e nos despedimos. Era hora de rumar para Bangalore. “O que vai fazer no restante de suas férias?”, perguntei. “Voltarei ao trabalho, acabaram as férias”, respondeu, sorrindo. Nos cumprimentamos com um abraço estilo indiano. Voltei ao meu posto e peguei as mochilas. Tinha que descolar o taxi para me levar ao terminal. Até as luzes do corredor de saída estava, se apagando, o dia amanhecendo, poucos turistas ainda perambulavam pelo lugar. Alguns esperavam o guichê de reservas de trem abrir. Decidi não esperar.

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