domingo, 20 de janeiro de 2013

Simplesmente Pushkar


Acordei antes da 7h. Arrumei a mala e minha cara e fui para a rodoviária de Sindhi Kamp. Cerca de 1,5km do Vaishnavi. Me embrenhei entre ônibus, bicicletas, rickshaws e fui atrás do guichê para pegar a passagem, que segundo o gerente do hotel, já havia reservado pra mim. Quando perguntei sobre o assunto, o funcionário deu risada e estendeu a mão. “125 rúpias.” Estava ótimo, sem reserva mesmo ia pagar mais barato. Entrei no ônibus, o clássico indiano, só que com o chão decorado com cascas da amendoim. Fiquei atrás de um casal de franceses e uma argentina. A francesa parecia ser experiente em India e dava dicas à hermana. Eu aprendia junto.

Aos poucos o ônibus tinha os acentos preenchidos. Um quarteto alemão completou o time dos estrangeiros. No caminho, o ônibus, depois de algumas freadas, tocou em frente, sem mais aceitar os acenos na estrada.
Em três horas estávamos em Pushkar, uma das cidades sagradas da India. Peguei algumas dicas com o casal francês e me despedi ao encontrar meu hostel, bem ao lado da parada de ônibus. Eles seguiram.

O Chacha's Garden fica na beira da rua principal de acesso à cidade.  Parecia vazio quando cheguei. É uma casa grande, com um pátio central, de areia e terra no chão, todo pintado de azul. Um jovem cuida da recepção e de tudo mais. O gerente, Pradesh, aparece vez ou outra, sem hóspede então. O quarto é simples, com duas camas de cimento e colchões de palha dura. Sem aquecimento, o jeito é dormir de calça jeans e cobertores.

Após ajeitar umas coisas na mala e decidir largar umas roupas de lembrança, fui para rua. Por uma viela lateral aberta entre montes de entulho e lixo, cheguei ao Varah Temple. Acelerei o passo e cheguei até a rua principal do centro. Lojas de roupas, joias, incensos e pimentas, bancas de frutas, objetos de madeira, facas e espadas, restaurantes, cursos de ioga, livrarias, bares, hoteis...


Pelo Varah Ghat, cheguei à beira do lago Pushkar Sarovar. Logo fui abordado por um homem, que me levou até a escadaria e me pediu para tirar o tênis. Em segundos, já estava falando com outro homem, que na beira do lago se dizia Holy Man, fizemos umas preces, repeti algumas palavras em hindi e inglês, joguei flores no lago, pedi boa sorte e deixei um troco pra ele, que amarrou uma pulseira no meu punho.



Agora já tinha sido “batizado”, não seria mais abordado por nenhum santo na minha estada perto do lago.  Qualquer coisa, mostre a pulseira. Ainda olhando para o pôr do sol que começava a dar sinais, lembrei que a perdi a aula sobre os ghats que a francesa deu no ônibus. Ghats são os templos à beira do lago, ou do rio, onde se fazem rezas e atividades religiosas. Em Pushkar, são mais de 20.

Sentei-me para admirar ainda mais o Sarovar. Conversei com um turco, que também está viajando sozinho pela região. Havia passado um mês no Nepal e agora mais um mês pela India. Ele contou que o hotel dele já havia dado um cordão para ele colocar no pulso e não ser abordado no lago. Resmunguei do Chacha's. Me despedi e fui caminhar. Parei em outra ponta do Sarovar e o sol começou  se aproximava da água.  Do lado esquerdo, a silhueta de um morro com um templo. Ao fundo, o templo de Brahma, o mais famoso ponto turístico de Pushkar,  único no mundo.

Também acompanhando o cair do dia, conversei com um trio, finlandesas e argentina, que finalizam um mês de trabalhos voluntários em Delhi. Passam o final de semana na cidade.


Me sentei em uma arquibancada que deve ter sido projetada para o pôr do sol. Tinha bom público. Acompanhei o fenômeno com uma bela música  tocada e cantada por um senhor, logo atrás de mim, que fazia uma pequena serenata para um casal. No lago, o barulho da cidade não chega e é possível escutar até o bater de asas dos muitos pássaros que vivem ali.

Mas a partir das 17h, o que se houve é música. Além dos cantadores na arquibancada, pude ouvir outras canções ao redor do lago. Em uma parte, abaixo de uma árvore, um grupo fazia percussão e só parou quando os sinos  das 18h, tocados por alguns senhores em diversas partes do Sarovar, iniciaram um ritual que marcou a chegada da noite.


Pushkar está invadida pelos estrangeiros. Muitos parecem já ser “de casa”. Outros até que moram ali. Uma quantidade de jovens que não vi nem em Goa. Vestidos com as coloridas roupas locais, cruzam a rua-mercado displicentes, entre as motos, as buzinas e os faróis.

Antes de voltar ao hotel, reencontrei o homem que havia me levado ao “Holy Man”. Quis conversar em italiano e me disse que mora numa cidade perto de Milão e que passa férias em sua terra natal.  Contou sobre amigos brasileiros que trabalharam com ele na colheita de uvas. Comprei bananas e água e fui para o Chacha's, hostel que até agora é habitado exclusivamente por mim. Fui dormir com cheiro de incenso, o cheiro de Pushkar.








2 comentários:

beta disse...

Muito legal. Estou adorando sua viagem.

beta disse...

E Pushkar deve ser linda mesmo. Suas fotos são uma amostra.