terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Por dentro do forte


Acordei cedo, mas tarde para a convocação para o passeio no deserto. Hassam tinha ido com Raoul, que pilota a moto do pai. Comi umas bananas e fui atrás de uma internet. Encontrei Justine e Louise na German Bakery (quase toda loja que vende pão não indiano tem esse nome), na frente do Lhassi Shop. Aproveitei para comer mais alguma coisa, enquanto estava no computador. Comprei a passagem para Jaipur. 

Combinei de almoçar com elas mais tarde. Pouco mais de uma hora depois, fui andar pelo forte. Jaisalmer é patrimônio histórico tombado, sua construção data do século XII, na época do império Rajput. Mas isso não quer dizer que tudo ali é antigo e pouco mexido. A impressão é que por dentro, tudo está e plena transformação. 


demolidas, novas obras, casas antigas, puxadinhos, ruínas... Tudo amarelo, cor das pedras da região. Depois soube que por dentro pouco resta de prédios antigos, com exceção dos templos e palácios. Tudo foi destruído e vem sendo alterado através dos anos. Boa parte da população que mora dentro do forte é da casta brâmane, de maior poder ecônomico e social. Condominio fechado não é idéia nova, apesar do pessoal de Alphaville se achar pioneiro.


Almoçamos em um restaurante chamado Little Tibet, na beirada do forte. Dali podíamos ver o portão único de Jaisalmer, repleto de lojas e restaurantes e ciganas que vendem braceletes e colares, com seus filhos no colo.
Comemos momos, os bolinhos com vegetais dentro e completamos com uma sopa e Lhassi de limão, que até agora não consegui ver como é feito.


Em comum acordo, rumamos para o lago de Jaisalmer. A tarde já acabava e a vísta nem seria das melhores, continuamos mesmo assim. No caminho, paramos em um Saffron Milk diferente e pior. Lá encontramos Mister Papoo e seu filho, que acabava de deixar Hassam no hotel.

Chegamos ao lago e a única luz vinha dos postes. Uma música era cantada em um templo ao lado. Subimos as escadas e as vozes foram sumindo, uma a uma, enquanto as pessoas saiam. Em um breve momento, só uma voz entoava um mantra. Louise foi a primeira a entrar, depois, eu. Batemos o sino três vezes e saudamos Ramesh. É ele que todas as manhã e noites abre e cuida do templo de Shiva. É ele que canta e faz as pessoas cantarem. Entre a manhã e a noite, trabalha em um banco, de terno e gravata. Ali, na nossa frente, vestia suas roupas religiosas, com sua testa pintada de amarelo e vermelho, o terceiro olho, entre as sobrancelhas.

Contou sobre seuas afazeres no templo, sua relação com as pessoas que lá vão todos os dias, seu trabalho, seus alunos de canto de mantras. “Uma aluna francesa gravou um disco com mantras e está me trazendo.” Com a fala pausada e extremamente calma, explicou os rituais, as cores das tintas, as músicas para cada dia, os tons das canções e como se deve ler em hindi e sânscrito, na hora de cantar. Lembrou de como seu pai o ensinou música. 

“Ele me batia nas mãos e até na cara, quando eu errava. Ficava com as marcas dos dedos dele na minha bochecha. Daí vinha minha mãe e me abraçava e assim eu recomeçava”, disse, com um sorriso tímido. “São educações diferentes, não é? Mas eu aprendi.”

Também conversamos com um senhor, que ao saber de cada nacionalidade ali sentada na frente de Ramesh, elaborou perguntas específicas a nós.
Ramesh gosta de futebol. Mais do que críquete. “É mais intenso, completo. São 90 minutos, mas de espetáculo.” Falou de Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Pelé. Nos ensinou a entrar e sair de templos hindus e nos despedimos.

Retornamos rápido, mas nos perdemos e chegamos quase 22h no hotel. Hassam estava lá e nos juntamos no terraço. Ao chegarmos, um grupo de policiais tomava umas cervejas e batia papo nas almofadas. Mister Papoo fez questão de nos sentarmos juntos. Porém, logo a comida chegou e a tropa rumou para a mesa. “Policia é igual em qualquer lugar do mundo”, soltou Hassam, enquanto Papoo já começava seu discurso.

Com alguns amigos, ele trouxe também um ensopado com ovo e especiarias para comer com pão. Queria agradar e se esforçava para isso.  Após a refeição, fim da noite.

Um comentário:

Paola disse...

Morenooooooo...você consegue conversar com pessoas "não turísticas" da India? (por causa da língua, etc...). Qual sua impressão das castas? O que tem visto disso?