quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Old Goa



O futebol adiou minha visita a Old Goa, que foi capital do estado português na Asia. Goa chegou a ser a principal colônia portuguesa, no sáculo XVI, mas depois, por problemas econômicos e sociais, perdeu espaço para o Brasil.

As bolhas nos pés não me deixaram ir muito longe durante um dia. Mas com band aids nos dedões tudo estava bem e fui encontrar uma parte do que os portugueses fizeram e deixaram na India. Old Goa está há 67km de Palolem.

O trajeto, porém, não é dos mais fáceis. Além das estradas precárias, é preciso atravessar uma serra, em meio a uma bela floresta. Na minha cabeça, em 1h40 estaria em Old Goa. Minha mente ainda não estava acostumada à India. Peguei a primeira condução na rua principal de Palolem. Me sentei ao lado de um senhor em um ônibus muito antigo, com barras de ferros atrás dos bancos para apoio.

No início, apenas eu e uma jovem bem loira, que estava de pé, como turistas. Depois, um trio de garotas que falavam inglês e um casal japonês também subiu. Andamos até o terminal de ônibus de Canacona.


O destino era Margão, ou Madgaon, ou ainda “Marigaomarigaomarigaomarigao” (como dizem os cobradores dos ônibus de forma impressionantemente veloz, chamando os passageiros).


Na espera do ônibus, que fazia um pit stop para troca de pneu ali mesmo ao nosso lado, acompanhamos uma partida de badminton no meio da pista do terminal. Após trocarem o pneu do ônibus colorido, entramos e partimos para Marigaomar....

Durante o caminho, perguntei para pessoas diferentes se estavamos indo mesmo para Margão e se de lá era possível ir para Old Goa. Fui aconselhado a fazer isso. Ter mais de uma opinião.

Era hora do almoço. Não havia conseguido partir pela manhã devido a minha pontualidade. Isso quer dizer, estava quente e as pessoas estavam se deslocando, crianças saindo da escola. O ônibus começou a ficar muito cheio. Tirava a filmadora da mala, vez ou outra, para gravar algumas cenas. Em um delas gravei o escrito no ônibus (em todos, aliás), “No smoking”e “No Spitting”. A mania de cuspir é bem difundida pelos indianos.

Um pouco mais de uma hora, chegamos à capital de Goa. Assim como Mumbai, mas em proporções menores, muito menores, Margão é uma cidade de muitos prédios mal pintados e deteriorados, misturados à novas construções. Soma-se a isso, uma grande quantidade de terrenos baldios e praças coloridas. Igrejas também ornam o visual. Cerca de 30% de Goa é católica.

Descemos no meio da pista de manobra. Buzinas, berros e o cheiro de gasolina. Saí perguntando onde pegava a condução para Old Goa. Escutei de um que teria que ir a Panjim, primeiro. Mas logo um motorista disse que ia para Old Goa. Perguntei pra ele e para mais dois, um era o cobrador. Ia passar por lá. Entrei. Estava vazio ainda e aproveitei para tirar umas fotos sem incomodar ninguém. A viagem foi demorada. Por alguns momentos, quando via placas que não eram obedecidas pelo condutor, pensava que chegaria em outro lugar, “Será que errei na pronuncia e o cara entendeu outra cidade?”, me perguntei.

Paramos em Ponda, em um lugar cheio de rickshaws, ônibus e buzinas. Todos desceram e eu me preparava para descer e reclamar. O motorista me pediu para continuar no banco. Beleza. Demoramos mais quase uma hora e meu tempo em Old Goa ficava curto, mas cheguei. Desci numa rótula e de longe, vi a catedral da Sé, branca e com sua torre única. A outra desmoronou há muitos anos.

Mancando, fui primeiro para a basíica de Bom Jesus. Escura, toda de pedra, com alguns arcos na lateral. Muitos turistas indianos liam sua história em muro ao lado. Por dentro, branca. Com o teto (branco) feito de grandes tábuas de madeira. Janelas altas e lá na frente o altar com todo o ouro que a igreja costumava usar e abusar.


Na parte de trás, em um canto meio escondido, o caixão onde dizem estar os restos mortais de São Francisco Xavier, um dos pioneiros da Companhia de Jesus e chamado pela Igreja de Apóstolo do oriente, pela quantidade de pessoas convertidas por ele ao cristianismo.

Saí da igreja e passei por duas imensas árvores na praça em frente. Caminhei mais um pouco até chegar na Sé. Dei a volta no largo à sua frente. Havia um casamento. Adentrei, mas fiquei pela lateral esquerda. Fotografei algumas das oito capelas que a catedral possui. Ela é a maior construção portuguesa na Ásia. Assim como a maior parte dos prédios, ela está pouco cuidada. Infiltrações, pisos quebrados, madeiras soltas e muita sujeira se misturam aos belos quadros e esculturas.


Já era tarde e precisava pensar na volta. Passei ainda pela a igreja de São Francisco de Assis, que achei a mais interessante, pois não havia bancos, somente a estrutura. Parecia um museu. E um bonito portão de madeira.
A capela de Santa Catarina, logo abaixo, é feita de pedra, com alguns traços vermelhos. Já estava fechada, mas a sua volta, uma praça, com alguns pedaços de antigas esculturas e colunas, reunidos, lado a lado. Crianças brincavam de esconder ali. Ainda mais abaixo, o rio Mandovi , que foi por anos o porto de atracação dos navios portugueses. Ele é imenso. No caminho para Paijim, pude ver alguns navios atracados.

Hora de voltar. Não havia ônibus direto para Margão. Teria que ir a Paijim, principal cidade do norte de Goa, distante 7km dali. Subi num ônibus cheio. Ao chegarmos ao terminal da cidade, acelerei o passo para achar o ponto de ônibus para Margão. Já começava a escurecer. Segui uma fila imensa e lamentei pelas pessoas que lá estavam. No guichê, perguntei sobre o meu ônibus. A fila também o queria.

Escureceu e já estava gravando umas cenas com a filmadora, enquanto umas pessoas olhavam curiosas. Puto, um jovem turista resmungava pela situação. Após tentativas mal e bem sucedidas dos babacas furadores de fila, comprei meu bilhete e subi no ônibus.

Mal cabiam minhas pernas no banco. Sonado com o chacoalhar na estrada, quase cai em cima do vizinho de acento umas cinco vezes. “Sorry”, eu dizia, mal abrindo os olhos.

Sem paradas, chegamos em Margão até que rápido. Eram 20h e uma hora antes havia saído o último ônibus para Canacona, disse o funcionário do terminal. E agora? Perguntei se tinha algum que ia para perto do meu destino. Ele sugeriu que pegasse algum ônibus que estivesse descendo para Kanataka, o estado que está atrás e abaixo de Goa.

Tive que esperar na rua, fora do terminal. Lá, um cara sugeriu que fosse para a estação de trem, pois 21h30 deveria passar um que me levaria a Canacona. Uma hora e meia de espera era demais e eu já cogitava um taxi. Perguntei a um grupo sobre o tal ônibus oara Kanataka e me confirmaram que passaria por ali. E passou. Passaram. Dois.

Fui no da frente, perguntei para o motorista se ele iria para o tal lugar, que até o momento, achava que era uma cidade. Ele respondeu. “Para onde você vai?” “Para Canacona”, respondi. “Entre no ônibus, nós passaremos por lá. 100 rúpias, por favor”. Não era hora de pechinchar, pensei. E eu nem sei fazer isso. Dei o dinheiro e seu ajudante me levou ao meu lugar.

Era um bed bus e fiquei feliz. Perguntei quanto tempo até meu destino e ele me disse que avisaria, meio injuriado. Tinha uma hora de cama. Deitei e relaxei.

Quase 22h desci em Canacona. Pulei no primeiro rickshaw que apareceu e fui direto para Palolem. Ainda tinha a mala para arrumar. Rumo a Jaipur.



Um comentário:

beta disse...

Boas histórias. Bela viagem.